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Informações da Prova Questões por Disciplina Ministério Público da União - Analista MPU - Administrativa - FCC - Fundação Carlos Chagas - 2007 - Prova Objetiva

Língua Portuguesa

O avesso da liberdade

1.     Os mitólogos costumam chamar de imagens de
        mundo certas estruturas simbólicas pelas quais, em todas
        as épocas, as diferentes sociedades humanas fundamentaram,
        tanto coletiva quanto individualmente, a experiência
5.     do existir. Ao longo da história, essas constelações de
        idéias foram geradas quer pelas tradições étnicas, locais,
        de cada povo, quer pelos grandes sistemas religiosos. No
        Ocidente, contudo, desde os últimos três séculos uma
        outra prática de pensamento veio se acrescentar a estes
10.  modos tradicionais na função de elaborar as bases de
        nossas experiências concretas de vida: a ciência. Com
        efeito, a partir da revolução científica do Renascimento as
        ciências naturais passaram a contribuir de modo cada vez
        mais decisivo para a formulação das categorias que a
15.  cultura ocidental empregará para compreender a realidade
        e agir sobre ela.
        Mas os saberes científicos têm uma característica
        inescapável: os enunciados que produzem são necessariamente
        provisórios, estão sempre sujeitos à superação e à
20.  renovação. Outros exercícios do espírito humano, como a
        cogitação filosófica, a inspiração poética ou a exaltação
        mística poderão talvez aspirar a pronunciar verdades
        últimas; as ciências só podem pretender formular verdades
        transitórias, sempre inacabadas. Ernesto Sábato assinala
25.  com precisão que todas as vezes que se pretendeu elevar
        um enunciado científico à condição de dogma, de verdade
        final e cabal, um pouco mais à frente a própria
        continuidade da aplicação do método científico invariavelmente
        acabou por demonstrar que tal dogma não passava
30.  senão... de um equívoco. Não há exemplo melhor deste
        tipo de superstição que o estatuto da noção de raça no
        nazismo.

 

(Luiz Alberto Oliveira. “Valores deslizantes: esboço de um ensaio
sobre técnica e poder”, In O avesso da liberdade. Adauto
Novaes (Org). São Paulo: Companhia das Letras, 2002. p. 191)

1 -

No primeiro parágrafo, o autor:

a)

fornece uma descrição objetiva do modo como, ao longo da história, germinam e se desenvolvem as imagens do mundo, expressão emprestada aos mitólogos.

b)

ratifica a idéia, construída ao longo da trajetória humana, de que o pensamento científico é a via mais eficaz para o conhecimento da realidade.

c)

atribui a idiossincrasias culturais as distintas representações daquilo que legitimaria as práticas humanas.

d)

defende que as sociedades humanas, apoiadas na religião ou em mitos variados, constroem imagens para autenticar a experiência individual perante a coletiva.

 

e)

expressa sua compreensão de que, fora do âmbito racional, não há base sólida que fundamente a vida dos seres humanos.

2 -

Ainda sobre o primeiro parágrafo, é correto afirmar :

a)

O emprego da conjunção contudo (linha 8) evidencia que o autor considera os modos tradicionais de conceber o mundo incompatíveis com a ciência, que os substitui.

b)

Contém, implicitamente, a idéia de que a capacidade cognitiva é conquista do mundo ocidental, principalmente nos últimos trezentos anos.

c)

O emprego da expressão Com efeito (linhas 11 e 12) colabora para a consolidação da idéia de que a observação dos fenômenos naturais foi conquista do Renascimento.

d)

Sustenta a idéia de que, a partir do Renascimento, as ciências desenvolveram normas práticas para a conduta humana, com respeito a valores na esfera individual ou coletiva.

e)

A forma verbal empregará (linha 15) evidencia que o autor dá como fato consumado o prestígio da ciência, do Renascimento em diante, na constituição do modo ocidental de pensar e agir.

3 -

No parágrafo 2:

a)

a conjunção Mas (linha 17) foi empregada não para eliminar o que foi dito anteriormente, e, sim, para introduzir uma contrapartida do objeto, fruto de distinta perspectiva de análise.

b)

constrói-se uma relativização das conquistas da ciência, sustentada na crítica de que ela se vale de procedimentos pouco objetivos na busca da verdade.

c)

constata-se o caráter incontrolável das experiências científicas, implicitamente atribuído às condições de descontinuidade em que se realizam.

d)

a expressão necessariamente provisórios (linhas 18 e 19) compõe uma advertência, dirigida a filósofos, poetas e místicos, que desconsideram a objetividade na produção do saber.

e)

incentiva-se a luta do ser para a constante superação de suas fragilidades pessoais, advindas de sua humana condição e permanente sujeição ao erro.

4 -

É correto afirmar:

a)

Infere-se do texto que os distintos discursos - religioso, filosófico, artístico, científico -, quando formalizam, cada um a seu modo, os dogmas da humanidade, na verdade estão conscientemente burlando o espírito que orienta cada específica prática.

b)

O texto demonstra que superstições surgem nos mais diversos campos do conhecimento, e são elas que, através do tempo, configuram o estatuto do humano.

c)

O texto esclarece que é uma pretensão imprópria aspirar a conquistas que, duradouras, podem acabar por se constituir em meros passos de um trajeto insuperável.

d)

Seria coerente com as idéias expressas no texto o seguinte comentário, suscitado pelo exemplo dado: "O nazismo, por mais assustador que seja o fato, não foi isento de racionalidade".

e)

No texto exprime-se o entendimento de que é comum a várias práticas de pensamento, excluindo-se o mítico, defender que o espírito humano é capaz de atingir o saber pleno.

5 -

É correto afirmar que:

a)

a conjunção quer, repetida (linhas 6 e 7), estabelece uma comparação entre os termos aproximados, indicando a superioridade de um sobre o outro.

b)

a forma verbal têm (linha 17) está em conformidade com as normas gramaticais, assim como a forma verbal destacada em “Embora eles não lhe dêm razão, ela sabe que está certa”.

c)

o emprego do sinal gráfico indicativo da crase está correto em sujeitos à superação (linha 19), assim como está em “Chegaram à propor um acordo, mas não foram ouvidos”.

d)

a transposição da frase essas constelações de idéias foram geradas quer pelas tradições étnicas (...) quer pelos grandes sistemas religiosos (linhas 5 a 7) para a voz ativa gera a forma verbal “costumam gerar”.

e)

o emprego de melhor, em Não há exemplo melhor (linha 30), está em conformidade com as normas gramaticais, assim como o do segmento assinalado em “Foram os exemplos mais bem escolhidos”.

6 -

Ernesto Sábato assinala com precisão que todas as vezes que se pretendeu elevar um enunciado científico à condição de dogma, de verdade final e cabal, um pouco mais à frente a própria continuidade da aplicação do método científico invariavelmente acabou por demonstrar que tal dogma não passava senão... de um equívoco.

O adequado entendimento daquilo que assinala Ernesto Sábato está expresso, de forma clara e correta, em:

a)

É perfeito o entendimento de dogma como verdade acabada, mas tem um desvio quando a ciência prova que o enunciado está ultrapassado, anulando o dogma equivocado, o que ocorreu em todas as vezes.

b)

Sempre que se tentou eternizar uma formulação científica, a ciência, ela mesma, desautorizou a pretensão, quando, por seus próprios instrumentos, desvelou a imperfeição daquele saber.

c)

Verdades finais e acabadas, verdadeiros dogmas, sempre existiram, mas, sendo do universo científico, a própria ciência se incumbiu de dar continuidade, tornando obsoleto o método.

d)

Muitas vezes houve tentativa de construir dogmas, mas se revelou impossível, porque a ciência, desenvolvendo, provou mais para frente que o enunciado científico não tinha fundamento real.

e)

É frequente ver o que a continuidade faz, pois a ciência, responsável pelo método, mostra o erro dos dogmas que, antes precisos, acabam invariavelmente provocando equívocos, como universalmente demonstrado.

Tempo e história.

1. Os vadios eram um grupo infrator caracterizado,
antes de mais nada, por sua forma de vida. Era o fato de
não fazerem nada, ou de nada fazerem de forma
sistemática, que os tornava suspeitos ante a parte bem
5. organizada da sociedade. Por não terem laços – a família,
domicílio certo, vínculo empregatício –, constituíam um
grupo fluido e indistinto, difícil de controlar e até mesmo de
enquadrar. Passados os primeiros tempos dos descobertos
auríferos, quando, como disse o jesuíta Antonil, os arraiais
10. foram “móveis como os filhos de Israel no deserto”, a
itinerância passou a ser cada vez mais tolerada. Em 1766
surge contra os vadios das Minas a primeira investida
oficial de que se tem notícia: uma carta régia dirigida em 22
de julho ao governador Luís Diogo Lobo da Silva, e incisiva
15. na condenação da itinerância de vadios e da forma peculiar
de vida que escolhiam. Tais homens, dizia o documento,
vivem separados do convívio da sociedade civil, enfiados
nos sertões, em domicílios volantes, ou seja, sem
residência fixa. Isto não podia ser tolerado, e deveriam
20. passar a viver em povoações que tivessem mais de
cinquenta casas e o aparelho administrativo de praxe nas
vilas coloniais: juiz ordinário, vereadores etc. Uma vez
estabelecidos, ser-lhes-iam distribuídas terras adjacentes
ao povoado para que as cultivassem, e os que assim não
25. procedessem seriam presos e tratados como salteadores
de caminhos e inimigos comuns.


(Laura de Mello e Souza. “Tensões sociais em Minas na segunda
metade do século XVIII”, In Tempo e história, org. Adauto
Novaes. São Paulo: Companhia das Letras/Secretaria Municipal da
Cultura, 1992. p. 358-359)

7 -

No texto, o autor:

a)

põe em foco um determinado estrato social, particularizando uma tentativa de disciplinamento oficial.

b)

desenvolve considerações minuciosas a respeito do tema central de seu discurso: a carta de Luís Diogo Lobo da Silva.

c)

narra um específico episódio ocorrido em Minas, tomado como exemplo do que se pode esperar da ação de grupo de infratores.

d)

lança hipóteses sobre as causas de um determinado comportamento social, depois de caracterizá-lo a partir da teoria de pesquisadores, religiosos ou não.

e)

toma os dados de pesquisa histórica como apoio para expressar e justificar o seu próprio juízo de valor acerca de infratores.

8 -

Considere as afirmações que seguem sobre a organização do texto.

I. No processo de argumentação, o autor valeu-se de testemunho autorizado.

II. A fala do jesuíta constitui argumento para a consolidação da idéia de que a itinerância passou a ser cada vez mais tolerada.

III. A data de 1766 foi citada como comprovação explícita de que o rei era realmente signatário da carta.

Está correto o que se afirma SOMENTE em:

a)

I.

b)

II.

c)

III.

d)

I e II.

e)

II e III.

9 -

Observado o contexto, está corretamente entendida a seguinte expressão do texto:

a)

nada fazerem de forma sistemática - nada produzirem de modo tecnicamente plausível.

b)

um grupo fluido e indistinto - um conglomerado espontâneo e informal.

c)

difícil de controlar e até mesmo de enquadrar - não passível de organizar e mesmo dominar.

d)

Passados os primeiros tempos dos descobertos auríferos - esgotadas as primeiras jazidas de ouro.

e)

forma peculiar de vida que escolhiam - singular maneira que se concediam de estar no mundo.

10 -

Em 1766 surge contra os vadios das Minas a primeira investida oficial de que se tem notícia.

Considerado o contexto, uma outra redação para o segmento destacado acima, que está correta e que não prejudica o sentido original, é:

a)

cuja existência se conhece.

b)

da qual a notícia foi dada.

c)

que a notícia foi veiculada.

d)

na qual se tem o registro.

e)

de que a notícia chegou até nós.

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