Nosso grande escritor Graciliano Ramos foi, como se sabe, prefeito da cidade alagoana de Palmeira dos Índios. Sua gestão ficou marcada não exatamente por atos administrativos ou decisões políticas, mas pelo relatório que o prefeito deixou, terminado o mandato. A redação desse relatório é primorosa, pela concisão, objetividade e clareza (hoje diríamos: transparência), qualidades que vêm coerentemente combinadas com a honestidade absoluta dos dados e da autoavaliação – rigorosíssima, sem qualquer complacência – que faz o prefeito. Com toda justiça, esse relatório costuma integrar sucessivas edições da obra de Graciliano. É uma peça de estilo raro e de espírito público incomum.
Tudo isso faz pensar na relação que se costuma promover entre linguagens e ofícios. Diz-se que há o “economês”, jargão misterioso dos economistas, o “politiquês”, estilo evasivo dos políticos, o “acadêmico”, com o cheiro de mofo dos baús da velha retórica etc. etc. E há, por vezes, a linguagem processual, vazada em arcaísmos, latinismos e tecnicalidades que a tornam indevassável para um leigo. Há mesmo casos em que se pode suspeitar de estarem os litigantes praticando – data venia – um vernáculo estrito, reservado aos iniciados, espécie de senha para especialistas.
Não se trata de ir contra a necessidade do uso de conceitos específicos, de não reconhecer a vantagem de se empregar um termo técnico em vez de um termo impreciso, de abolir, em suma, o vocabulário especializado; trata-se, sim, de evitar o exagero das linguagens opacas, cifradas, que pedem “tradução” para a própria língua a que presumivelmente pertencem. O exemplo de Graciliano diz tudo: quando o propósito da comunicação é honesto, quando se quer clareza e objetividade no que se escreve, as palavras devem expor à luz, e não mascarar, a mensagem produzida. No caso desse honrado prefeito alagoano, a ética rigorosa do escritor e a ética irrepreensível do administrador eram a mesma ética, assentada sobre os princípios da honestidade e do respeito para com o outro.
(Tarcísio Viegas, inédito)
O autor do texto comenta o relatório do prefeito Graciliano Ramos para ilustrar a:
a)
superioridade de uma linguagem técnica sobre a não especializada. |
b)
necessidade de combinar clareza de propósito e objetividade na comunicação. |
c)
possibilidade de sanar um problema de expressão pela confissão honesta. |
d)
viabilidade de uma boa administração pública afirmada em boa retórica. |
e)
vantagem que leva um grande escritor sobre um simples administrador. |
Atente para as seguintes afirmações:
I. No 1.º parágrafo, afirma-se que a administração do prefeito Graciliano Ramos foi discutível sob vários aspectos, mas seu estilo de governar revelou-se inatacável.
II. No 2.º parágrafo, uma estreita relação entre linguagens e ofícios é dada como inevitável, apesar de indesejável, pois os diferentes jargões correspondem a diferentes necessidades da língua.
III. No 3.º parágrafo, busca-se distinguir a real eficácia de uma linguagem técnica do obscurecimento de uma mensagem, provocado pelo abuso de tecnicalidades.
Em relação ao texto, está correto APENAS o que se afirma em:
a)
I. |
b)
II. |
c)
III. |
d)
I e II. |
e)
II e III. |
Há mesmo casos em que se pode suspeitar de estarem os litigantes praticando - data venia - um vernáculo estrito (...)
Nessa passagem do texto, o autor:
a)
vale-se de uma linguagem que em si mesma ilustra o caso que está condenando. |
b)
mostra-se plenamente eficaz na demonstração do que seja estilo conciso. |
c)
parodia a linguagem dos leigos, quando comentam a dos especialistas. |
d)
vale-se de um estilo que contradiz a prática habitual dos registros públicos. |
e)
mostra-se contundente na apreciação das vantagens da retórica. |
Considerando-se o contexto, traduz-se adequadamente o sentido de um segmento em:
a)
sem qualquer complacência (1.º parágrafo) = destituído de intolerância. |
b)
jargão misterioso (2.º parágrafo) = regionalismo infuso. |
c)
vazada em arcaísmos (2.º parágrafo) = rompida por modismos. |
d)
a que presumivelmente pertencem (3.º parágrafo) = que se imagina integrarem. |
e)
assentada sobre os princípios (3.º parágrafo) = reprimida com base nos fundamentos. |
Na construção Não se trata de ir contra (...), de não reconhecer (...), de abolir (3.º parágrafo), os elementos sublinhados têm, na ordem dada, o sentido de:
a)
contrariar - desconhecer - procrastinar |
b)
ir ao encontro - ignorar - suspende |
c)
contradizer - desmerecer - extinguir |
d)
contraditar - discordar - reprimir |
e)
ir de encontro - rejeitar - suprimir |
Quanto às normas de concordância verbal, a frase inteiramente correta é:
(Questão anulada)
a)
O que marcou a gestão de Graciliano Ramos não foi, propriamente, os atos administrativos, mas as qualidades de seu memorável relatório. |
b)
Não são de praxe, nos documentos oficiais, virem combinados atributos como o da concisão e o da objetividade. |
c)
Quando se pensam nas linguagens e nos ofícios, é comum considerar que devam haver entre eles marcas estilísticas de alta especialização. |
d)
Mesmo às emoções mais inflamadas de um litígio pode dar vazão a uma linguagem clara e objetivamente contundente. |
e)
Aquele a quem não importa, em nenhum momento, as virtudes da concisão e da objetividade, só resta derramar-se em mau estilo. |
Há alteração de voz verbal e de sentido na passagem da construção:
a)
Sua gestão ficou marcada para Sua gestão restou marcada. |
b)
É uma peça de estilo raro para Trata-se de uma obra de linguagem incomum. |
c)
(...) que a tornam indevassável para que a fazem incompreensível. |
d)
(...) devem expor à luz (...) a mensagem para precisam revelar (...) o comunicado. |
e)
O exemplo de Graciliano diz tudo para tudo é dito como exemplo para Graciliano. |
Está clara e correta a redação deste livre comentário sobre o texto:
a)
Muito leitor curioso não deixará de pesquisar o famoso relatório de que trata o texto, providência de que não se arrependerá. |
b)
Aos leitores curiosos caberão promover pesquisas para encontrar esse relatório, com o qual certamente não se deverão frustrar. |
c)
Espera-se que os leitores habituais de Graciliano invidem todos os seus esforços no sentido de ler o relatório, cujo o valor é inestimável. |
d)
É tão primoroso esse relatório que os leitores de Graciliano romancista acharão nele motivos para ainda mais orgulhar-se do mesmo. |
e)
Sendo pouco comum admirar-se um relatório de prefeito, verão os leitores de Graciliano que não se trata aqui deste caso, muito ao contrário. |
A pontuação está inteiramente correta em:
a)
Quando prefeito de Palmeira dos Índios Graciliano, nem todos o sabem, escreveu a propósito de sua gestão, um relatório que se tornou memorável. |
b)
O autor do texto, até onde se pode avaliar não investe contra a linguagem técnica se esta é produtiva, mas contra excessos que a tornam ineficaz. |
c)
Ao caracterizar várias linguagens, correspondentes a vários ofícios, o autor não deixou de se valer da ironia, essa arma habitual dos céticos. |
d)
A ética rigorosa que Graciliano revela na escritura dos romances, está também nesse relatório de prefeito muito autocrítico e enxuto. |
e)
A retórica entendida como arte do discurso, pode ser eficaz ou inútil, dependendo dos propósitos e do talento, de quem a manipula. |
Está plenamente adequado o emprego do elemento sublinhado na frase:
a)
O relatório para cujo o autor do texto chama a atenção está no livro Viventes das Alagoas. |
b)
Trata-se de um relatório de prestígio, para o qual concorreram o talento do escritor e a honestidade do homem. |
c)
Ao final do período aonde Graciliano ocupou o cargo de prefeito, compôs um primoroso relatório. |
d)
Às vezes o estilo de um simples documento, ao qual nos deparamos, torna-o absolutamente enigmático para nós. |
e)
Sempre haverá quem sinta prazer em produzir uma linguagem da qual é preciso um grande esforço para penetrar. |
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