1 Agora olhavam as lojas, as toldas, a mesa do leilão. E conferenciavam pasmados. Tinham percebido que
havia muitas pessoas no mundo. Ocupavam-se em descobrir uma enorme quantidade de objetos. Comunicaram
baixinho um ao outro as surpresas que os enchiam. Impossível imaginar tantas maravilhas juntas. O menino mais
4 novo teve uma dúvida e apresentou-a timidamente ao irmão. Seria que aquilo tinha sido feito por gente? O menino
mais velho hesitou, espiou as lojas, as toldas iluminadas, as moças bem vestidas. Encolheu os ombros. Talvez aquilo
tivesse sido feito por gente. Nova dificuldade chegou-lhe ao espírito, soprou-a no ouvido do irmão. Provavelmente
7 aquelas coisas tinham nomes. O menino mais novo interrogou-o com os olhos. Sim, com certeza as preciosidades
que se exibiam nos altares da igreja e nas prateleiras das lojas tinham nomes. Puseram-se a discutir a questão
intrincada. Como podiam os homens guardar tantas palavras? Era impossível, ninguém conservaria tão grande soma
10 de conhecimentos. Livres dos nomes, as coisas ficavam distantes, misteriosas. Não tinham sido feitas por gente.
E os indivíduos que mexiam nelas cometiam imprudência. Vistas de longe, eram bonitas. Admirados e medrosos,
falavam baixo para não desencadear as forças estranhas que elas porventura encerrassem.
Graciliano Ramos. Vidas secas. São Paulo: Martins, 1972, p.125.
No texto apresentado acima, dois personagens do romance Vidas Secas, o menino mais velho e o menino mais novo, deixam a fazenda em que seu pai trabalhava como vaqueiro, para irem à festa de Natal em uma pequena cidade.
Com base nessas informações e no fragmento do texto de Graciliano Ramos, julgue o(s) item(ns) subsequente(s):
No texto , pela linguagem literária, o autor aborda uma questão universal - a construção do conhecimento do mundo pelo homem por meio da nomeação dos objetos -, a partir da narrativa de uma experiência particular dos personagens - a primeira visita de dois meninos a uma pequena cidade.
Certa. |
Errada. |
No trecho “Talvez aquilo tivesse sido feito por gente” (L.5-6), o verbo concorda com “gente”, sujeito da oração na voz passiva.
Certa. |
Errada. |
O emprego da linguagem figurada, como em “soprou-a no ouvido do irmão” (L.6), e a ausência do discurso direto confirmam o que está evidente no trecho “O menino mais novo interrogou-o com os olhos” (L.7), isto é, que em ambos os momentos a comunicação entre os dois personagens prescinde da linguagem verbal.
Certa. |
Errada. |
No trecho “as preciosidades que se exibiam nos altares da igreja e nas prateleiras das lojas tinham nomes” (L.7-8), os objetos religiosos e as mercadorias estão reunidos sob a designação comum de “nomes”, o que está de acordo com a associação feita pelos meninos entre as coisas espirituais e as coisas “feitas por gente” (L.10).
Certa. |
Errada. |
Considerando-se a linguagem usada pelo escritor para narrar a experiência dos meninos na cidade, é correto afirmar que a questão abordada no texto pode ser considerada “intrincada” (L.9) não apenas para os personagens, mas também para o autor e o leitor.
Certa. |
Errada. |
1 Os seres humanos, nas culturas orais primárias, não afetadas por qualquer tipo de escrita, aprendem muito,
possuem e praticam uma grande sabedoria, porém não “estudam”. Eles aprendem pela prática - caçando com
caçadores experientes, por exemplo -, pelo tirocínio, que constitui um tipo de aprendizado; aprendem ouvindo,
4 repetindo o que ouvem, dominando profundamente provérbios e modos de combiná-los e recombiná-los,
assimilando outros materiais formulares, participando de um tipo de retrospecção coletiva - não pelo estudo no
sentido estrito.
7 Quando o estudo, no sentido estrito de análise sequencial ampla, se torna possível com a interiorização
da escrita, uma das primeiras coisas que os letrados frequentemente estudam é a própria linguagem e seus usos. A
fala é inseparável da nossa consciência e tem fascinado os seres humanos, além de trazer à tona reflexões
10 importantes sobre ela própria, desde os mais antigos estágios da consciência, muito tempo antes do surgimento da
escrita.
Walter Ong. Oralidade e cultura escrita. Papirus, 1998, p. 17 (com adaptações).
A partir da organização do texto acima, julgue o(s) seguinte(s) item(ns):
O desenvolvimento da argumentação do texto permite que se empregue tanto “afetadas” (L.1) quanto a correspondente flexão de masculino, afetados, sem que seja prejudicada a correção gramatical.
Certa. |
Errada. |
As regras de pontuação da língua portuguesa são respeitadas tanto substituindo-se os travessões, nas linhas 2 e 3, por parênteses, como substituindo-se o primeiro deles por vírgula e eliminando-se o segundo.
Certa. |
Errada. |
Na linha 5, o emprego de “pelo”, regendo “estudo”, indica que está subentendida, antes dessa contração, a forma verbal aprendem, como utilizado na linha 2.
Certa. |
Errada. |
Na linha 9, mesmo que o verbo que antecede a locução adverbial “à tona” não exigisse objeto regido pela preposição a, como exige esse emprego do verbo “trazer”, o sinal indicativo de crase seria obrigatório nesse contexto.
Certa. |
Errada. |
1 Os sistemas simbólicos e, particularmente, a língua exercem um papel fundamental na comunicação entre
os sujeitos e no estabelecimento dos significados compartilhados, que permitem interpretações dos objetos, eventos
e situações do mundo real. Na ausência de um sistema de signos compartilhado e articulado, como a língua humana,
4 somente o tipo de comunicação mais primitivo e limitado é possível.
O surgimento do pensamento verbal e da língua como sistema de signos é crucial no desenvolvimento da
espécie humana, momento mesmo em que o biológico transforma-se no histórico e em que emerge a centralidade
7 da mediação simbólica na constituição do psiquismo humano.
Martha Kohl de Oliveira. História, consciência e educação. In: Viver Mente&Cérebro. Edição Especial, 2005, p. 10 (com adaptações).
Julgue o(s) seguinte(s) item(ns), a respeito da organização das idéias no texto acima:
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