Texto I
Analistas, especialmente vindos da biologia, das ciências da Terra e da cosmologia, nos advertem que o tempo atual se assemelha muito às épocas de grande ruptura no processo da evolução, épocas caracterizadas 05 por extinções em massa. Efetivamente, a humanidade se encontra diante de uma situação inaudita. Deve decidir se quer continuar a viver ou se escolhe sua autodestruição. O risco não vem de alguma ameaça cósmica – o choque de algum meteoro ou asteróide rasante – nem 10 de algum cataclismo natural produzido pela própria Terra – um terremoto sem proporções ou algum deslocamento fenomenal de placas tectônicas. Vem da própria atividade humana. O asteróide ameaçador se chama homo sapiens demens, surgido na África há poucos milhões de anos. 15 Pela primeira vez no processo conhecido de hominização, o ser humano se deu os instrumentos de sua autodestruição. Criou-se verdadeiramente um princípio, o de autodestruição, que tem sua contrapartida, o princípio de responsabilidade. De agora em diante, a existência da 20 biosfera estará à mercê da decisão humana. Para continuar a viver, o ser humano deverá querê-lo. Terá que garantir as condições de sua sobrevida. Tudo depende de sua própria responsabilidade. O risco pode ser fatal e terminal. Resumidamente, três são os nós problemáticos que, 25 urgentemente, devem ser desatados: o nó da exaustão dos recursos naturais não renováveis, o nó da suportabilidade da Terra (quanto de agressão ela pode suportar?) e o nó da injustiça social mundial. Não pretendemos detalhar tais problemas amplamente 30 conhecidos. Apenas queremos compartilhar e reforçar a convicção de muitos, segundo a qual a solução para os referidos problemas não se encontra nos recursos da civilização vigente. Pois o eixo estruturador desta civilização reside na vontade de poder e de dominação. Assujeitar a 35 Terra, espoliar ao máximo seus recursos, conquistar os povos e apropriar-se de suas riquezas, buscar a prosperidade mesmo à custa da exploração da força do trabalho e da dilapidação da natureza: eis o sonho maior que mobilizou e continua mobilizando o mundo moderno. Ora, esta vontade 40 de poder e de dominação está levando a humanidade e a Terra a um impasse fatal. Ou mudamos ou perecemos. Temos que mudar nossa forma de pensar, de sentir, de avaliar e de agir. Somos urgidos a fazer uma revolução civilizacional. Sob outra inspiração e a partir de outros 45 princípios mais benevolentes para com a Terra e seus filhos e filhas. Por ela os seres humanos poderão salvar-se e salvar também o seu belo e radiante planeta Terra. Mais ainda. Esposamos a idéia de que os sofrimentos atuais possuem uma significação que transcende a crise 50 civilizacional. Eles se ordenam a algo maior. Revelam o trabalho de parto em que estamos, sinalizando o nascimento de um novo patamar de hominização. Estão surgindo os primeiros rebentos de um novo pacto social entre os povos e de uma nova aliança de paz e de cooperação com a Terra, 55 nossa casa comum. Recusamo-nos à idéia de que os 4,5 bilhões de anos de formação da Terra tenham servido à sua destruição. As crises e os sofrimentos se ordenam a uma grande aurora. Ninguém poderá detê-la. De uma época de mudança 60 passamos à mudança de época. Estamos deixando para trás um paradigma que plasmou a história nos últimos quinze mil anos.
(Adaptação de BOFF, Leonardo. O despertar da águia: O dia-bólico e o sim-bólico na construção da realidade. Petrópolis/RJ: Vozes, 1998.
A respeito do conteúdo proposto no texto I, é correto afirmar que:
a)
embora a humanidade tenha instaurado o princípio de autodestruição, já se pode vislumbrar o início de um movimento em favor do princípio de responsabilidade. |
b)
embora a humanidade ainda não tenha colaborado com o princípio de autodestruição, ela não vislumbra qualquer colaboração com o princípio de responsabilidade. |
c)
no processo de hominização, a humanidade precisará dosar atitudes condizentes não só com o princípio de autodestruição, mas também com o de responsabilidade. |
d)
embora nos últimos anos tenha havido forte colaboração da humanidade com o princípio de responsabilidade, já se instauram atitudes que promovem o princípio de autodestruição. |
e)
o equilíbrio notável entre atitudes de autodestruição e de responsabilidade não foi suficiente para um processo de hominização que preserve a biosfera e garanta o futuro da humanidade. |
Com relação à estruturação do texto I e dos parágrafos, analise as afirmativas a seguir:
I. Os três primeiros parágrafos em conjunto apresentam e descrevem o risco de autodestruição que acomete a humanidade.
II. O quarto e o quinto parágrafos em conjunto apresentam os problemas e as soluções advindos do princípio de responsabilidade.
III. O sexto, o sétimo e o oitavo parágrafos em conjunto advertem sobre a necessidade de mudança de paradigma e anunciam o início de novos tempos.
Assinale:
a)
se somente a afirmativa I estiver correta. |
b)
se somente a afirmativa II estiver correta. |
c)
se somente a afirmativa III estiver correta. |
d)
se somente as afirmativas I e III estiverem corretas. |
e)
se todas as afirmativas estiverem corretas. |
Efetivamente, a humanidade se encontra diante de uma situação inaudita. (L. 5-6)
Considerando a significação contextual do vocábulo destacado no fragmento acima, é correto afirmar que ele tem valor equivalente ao do seguinte vocábulo:
a)
esperada. |
b)
exemplar. |
c)
extraordinária. |
d)
delirante. |
e)
justificável. |
O risco não vem de alguma ameaça cósmica - o choque de algum meteoro ou asteróide rasante - nem de algum cataclismo natural produzido pela própria Terra - um terremoto sem proporções ou algum deslocamento fenomenal de placas tectônicas. (L. 8-12)
Assinale a alternativa que apresente a função correta dos travessões empregados no fragmento:
a)
destacar o argumento que constitui a informação mais relevante do período. |
b)
introduzir discurso direto, indicando a mudança de interlocutor. |
c)
isolar informação aposta que exemplifica o enunciado anterior. |
d)
marcar a aceleração da voz na melodia típica das orações restritivas. |
e)
assinalar a pausa máxima da voz numa entoação ascendente. |
De uma época de mudança passamos à mudança de época. (L. 59-60)
A mudança na ordem entre os elementos das expressões destacadas determina a alteração do significado dessas expressões. O item em que a mudança de ordem também altera o significado original da frase ou da expressão é:
a)
Não pretendemos detalhar tais problemas amplamente conhecidos (L. 29-30) / Não pretendemos detalhar amplamente tais problemas conhecidos. |
b)
Apenas queremos compartilhar e reforçar a convicção de muitos (L. 30-31) / Queremos, apenas, compartilhar e reforçar a convicção de muitos. |
c)
sinalizando o nascimento de um novo patamar de hominização (L. 51-52) / sinalizando o nascimento de um patamar de hominização novo. |
d)
Assujeitar a Terra, espoliar ao máximo seus recursos (L. 34-35) / Assujeitar a Terra, espoliar seus recursos ao máximo. |
e)
a solução para os referidos problemas não se encontra nos recursos da civilização vigente (L. 31-33) / a solução para os problemas referidos não se encontra nos recursos da civilização vigente. |
Para continuar a viver, o ser humano deverá querê-lo. Terá que garantir as condições de sua sobrevida. (L. 20-22)
Ninguém poderá detê-la. (L. 59)
Considerando os pronomes destacados nos fragmentos, assinale a alternativa que contenha os respectivos referentes detectados a partir do texto:
a)
ser humano - continuar a viver - ideia. |
b)
continuar a viver - ser humano - grande aurora. |
c)
sobrevivência - viver - grande aurora. |
d)
continuar a viver - condições - destruição. |
e)
continuar a viver - ser humano - formação. |
Com relação aos processos de formação de palavras, analise as afirmativas a seguir:
I. estruturador, civilizacional e renováveis são adjetivos formados por derivação sufixal.
II. hominização, dilapidação e autodestruição são substantivos formados por composição e derivação.
III. autodestruição, contrapartida e responsabilidade são substantivos formados por composição.
Assinale:
a)
se somente a afirmativa I estiver correta. |
b)
se somente a afirmativa II estiver correta. |
c)
se somente a afirmativa III estiver correta. |
d)
se somente as afirmativas I e II estiverem corretas. |
e)
se todas as afirmativas estiverem corretas. |
Criou-se verdadeiramente um princípio, o de autodestruição, que tem sua contrapartida, o princípio de responsabilidade. (L. 17-19)
Das alterações processadas na frase, assinale aquela cuja forma de estruturação é a única sintaticamente correta e semanticamente compatível com as ideias defendidas no texto:
a)
Criou-se verdadeiramente um princípio, o de autodestruição, com cujo princípio de responsabilidade antecipou-se à contrapartida. |
b)
Criou-se verdadeiramente um princípio, o de autodestruição, sem cuja contrapartida o princípio de responsabilidade logrou existir. |
c)
Criou-se verdadeiramente um princípio, o de autodestruição, e sua contrapartida estrutura ao princípio de responsabilidade. |
d)
Criou-se verdadeiramente um princípio, o de autodestruição, onde a contrapartida é ao princípio de responsabilidade. |
e)
Criou-se verdadeiramente um princípio, o de autodestruição, em cuja contrapartida está o princípio de responsabilidade. |
Esposamos a idéia de que os sofrimentos atuais possuem uma significação que transcende a crise civilizacional. (L. 48-50)
Com relação à frase transcrita, analise as afirmativas a seguir:
I. O primeiro que é uma conjunção integrante e serve para articular um complemento oracional ao substantivo abstrato idéia.
II. O segundo que é um pronome interrogativo cujo uso se justifica em razão da seguinte pergunta: que significação transcende a crise civilizacional?
III. As duas ocorrências de que promovem a estruturação do período composto, já que introduzem a oração subordinada substantiva e a subordinada adjetiva, respectivamente.
Assinale:
a)
se somente a afirmativa I estiver correta. |
b)
se somente a afirmativa II estiver correta. |
c)
se somente a afirmativa III estiver correta. |
d)
se somente as afirmativas I e III estiverem corretas. |
e)
se todas as afirmativas estiverem corretas. |
Texto II
Há anos compro peixe na mesma feira com o mesmo peixeiro. Disse a ele outro dia: Quando crescer, quero ser peixeiro. Devolveu a provocação: “Boa escolha, professor. É a profissão do id.” Fiquei uma semana intrigado. Enfim, 05 um peixeiro freudiano no Rio de Janeiro! Um analista excêntrico que tem por hobby limpar escamas! Na feira seguinte, perguntei: Ok, peixeiro é a profissão do id. Mas como assim? “O professor não conhece a Bíblia? Cristo precisava de apóstolos, chamou os pescadores e disse: 10 Ide e pregai o evangelho a toda criatura!”. Um sujeito bem intencionado quer dizer uma coisa, o freguês entende outra. Quando dizemos “direitos humanos”, por exemplo, o que entendem os peixeiros, torneiros mecânicos, políticos profissionais, investigadores de 15 polícia, personal trainings e membros de outras profissões? Não sabemos, mas deveríamos. A luta social não acontece só na “política” – partidos, parlamentos, sindicatos etc. Acontece também no interior da linguagem. Os desentendimentos por causa das palavras 20 são, às vezes, desentendimentos sociais. Não se sabe, por exemplo, quem inventou a palavra “excluídos” para designar pobres. Os movimentos sociais incorporaram a palavrinha sem refletir. A criança que não tem escola – está “excluída” da escola. O trabalhador que 25 não tem emprego – está “excluído” do emprego. A palavra designa um fato real, mas o que quer dizer? Que a sociedade tem um lado de dentro e outro de fora. Como se fosse um trem correndo pela Baixada Fluminense (digamos): nós que estamos dentro olhamos pela janela e vemos as casas e 30 pessoas que estão de fora. Acontece que a sociedade não é um trem que corre pela Baixada. A sociedade é o trem e as pessoas que vemos pela janela do trem. A sociedade não tem lado de fora. O que está fora da sociedade seria desumano, pois ela nada mais é 35 que a relação entre os humanos. Não formamos sociedade com os cães, os mosquitos, os micos-leões-dourados. A única possibilidade de um ser humano ser excluído dela é deixar de ser humano. Até mesmo a nossa relação com a natureza e os bichos se faz por meio da sociedade. 40 O leitor já viu onde quero chegar. Chamar alguém de “excluído” é lhe retirar a condição de humano. Ora, os movimentos sociais, que lutam para estender os direitos humanos a todas as pessoas, querem precisamente o contrário: querem humanizar ricos e pobres, negros e 45 brancos, homens de bem e criminosos, bonitos e feios. Como é então que usam, e abusam, da palavra “excluídos”? Como é que admitem que a sociedade tem um lado de dentro (onde estão os incluídos) e um lado de fora (onde estão os “excluídos”)? Como é que se deixam enredar por 50 esse pântano de palavras, a ponto de negar com a boca o que fazem com o coração? Alguém os enredou. Quem foi? Talvez o Polvo de Vieira. “O polvo, escurecendo-se a si, tira a vista aos outros, e a primeira traição e roubo que faz é a luz, para que não se 55 distinga as cores”. Não é inocente chamar os explorados de nossa sociedade de “excluídos”. Primeiro, porque, sutilmente, se está negando aos pobres a humanidade que os outros teriam. Segundo porque se está desvinculando a pobreza (“exclusão”) da riqueza (“inclusão”). Por esse 60 modo de pensar, aparentemente inocente, os ricos nada têm a ver com os pobres. Estes são problema do governo, “que devia dar escola, saúde e segurança aos excluídos” e dos políticos “que só sabem roubar”. Temos até hoje feira de trabalhadores: centenas de 65 homens fortes acocorados esperando o “gato” selecionar os que vão trabalhar. O salário obedece à lei da oferta e procura: sobe se os acocorados forem poucos, desce se forem muitos. Como lidar com o número crescente de pessoas que 70 nascem, vivem e morrem sem trabalho? O Brasil inventou várias “soluções” para esse problema do desenvolvimento. Uma delas foi o padrão popular de acumulação: o Se Virar. Os que se viram não estão excluídos de nada. Pertencem a um padrão de acumulação que compete há cem anos com 75 o padrão capitalista. Na minha feira, há muitos vendedores de limão. Alguns vendem outras coisas. São “excluídos”? Produzem mais- valia como qualquer outro proletário. Desejam roupas, tênis, bailes, prestígio, mulheres de revista, adrenalina, alucinação. 80 Têm desejos e compram a sua satisfação possuindo a imagem (ou a simulação) dos objetos do desejo. Se tiverem competência e sorte, se tornarão vendedores de objetos (como limão) ou de sensações (como cocaína). Alguns abraçarão a profissão do Ide. De um jeito ou de outro, todos 85 estão incluídos.
(Adaptação do texto de SANTOS, Joel Rufino dos. Jornal do Brasil, domingo, 11/03/2001.)
Com relação à construção do sentido do texto II, analise as afirmativas a seguir:
I. O caso do peixeiro, citado no primeiro parágrafo, constitui exemplo e motivação para o desenvolvimento da ideia de que as palavras podem adquirir valores sociais distintos, como ocorre com o vocábulo excluídos.
II. A utilização do vocábulo excluídos para designar pobres é compatível com a concepção de que a sociedade se configura na relação entre humanos.
III. Os vocábulos id, ide, direitos humanos e excluídos - incompreendidos por usuários da língua portuguesa, especialmente aqueles desprovidos de escolaridade - revelam a luta social presente também na política.
Assinale:
a)
se somente a afirmativa I estiver correta. |
b)
se somente a afirmativa II estiver correta. |
c)
se somente a afirmativa III estiver correta. |
d)
se somente as afirmativas I e III estiverem corretas. |
e)
se todas as afirmativas estiverem corretas. |
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