1 No meio da massa compacta de pedestres que se
movia lentamente pela calçada como um miriápode gigante,
o homem tinha a impressão de que não eram as pessoas que
4 andavam, mas que suas pernas pertenciam, na verdade, a esse
grande animal urbano que se arrasta pesadamente pelas ruas
das grandes cidades. A situação, contudo, não o desagradava.
7 Gostava de multidão, apenas não considerava aquele o
momento mais adequado para usufruir dela. Às seis e meia da
tarde tinha que estar no bar defronte à 12.ª DP, na rua Hilário
10 de Gouveia, e já passava das seis. Com o movimento de
pedestres em qualquer outra hora do dia não haveria problema,
mas com o trânsito nas calçadas àquela hora da tarde na
13 avenida Copacabana, as pessoas saindo do trabalho e o
movimento ainda intenso do comércio, a morosidade com que
a multidão se deslocava impedia toda pressa. Estava a ponto de
16 procurar um trajeto mais livre quando algum sinal de trânsito
mais à frente liberou o fluxo de pessoas e o bloco ganhou um
pouco mais de mobilidade.
Luiz Alfredo Garcia-Roza. Na multidão. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p. 20.
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