1 Há duas maneiras de olhar para o desenvolvimento no mundo contemporâneo. Uma, profundamente influenciada pelo crescimento da economia e pelos valores que lhe estão 4 subjacentes, refere-se ao desenvolvimento essencialmente como uma expansão rápida e sustentada do produto nacional bruto per capita, talvez qualificada por uma exigência de que 7 os frutos dessa expansão alcancem todas as camadas da comunidade. Uma segunda visão, que contrasta com a anterior, vê o desenvolvimento como um processo que aumenta a 10 liberdade dos envolvidos para perseguir quaisquer objetivos que valorizem. Em consonância com essa visão do desenvolvimento, a expansão da capacidade humana 13 pode ser descrita como a característica central do desenvolvimento. O conceito de “capacidade” de uma pessoa pode ser encontrado em Aristóteles, para quem a vida de um 16 indivíduo pode ser vista como uma sequência de coisas que ele faz e que constituem uma sucessão de funcionamentos. A capacidade refere-se às combinações alternativas de 19 funcionamentos a partir das quais uma pessoa pode escolher. Assim, a noção de capacidade é essencialmente um regime de liberdade — o leque de opções que uma pessoa tem para 22 decidir que tipo de vida levar. A pobreza, nessa visão, não reside apenas no estado de empobrecimento em que uma pessoa pode realmente viver, mas também na falta de 25 oportunidade real — imposta por constrangimentos sociais, bem como circunstâncias pessoais — para escolher outros tipos de vida.
Amartya Sem. Desenvolvimento com opulência, ou com
liberdade efetiva. In: Planeta, maio/2010, p. 75 (com adaptações).
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