Atenção: A(s) questão(ões) a seguir referem-se ao texto abaixo.
Nós e as minhocas
Viajar embaixo da terra é coisa para minhoca, ou para a gente das cidades modernas. Foi pensando nisso que entrei, há muitos anos, no meu primeiro trem subway para passear de um bairro a outro de São Paulo. Meu primeiro metrô. Trens já conhecia de criança, quando viajava pelo interior do estado nos mais diferentes percursos, entretido com a paisagem puramente rural que desfilava pela janela (saudades). Casinholas, pastos, bois, mangueiras, montes, cercas, riachos... Pois entrei no meu primeiro metrô, me instalei junto à janela e comecei a ver passar, quase indistintamente, paredes de concreto, grossas colunas, tubulações metálicas. Até chegar às luzes artificiais de uma nova estação, igualzinha à de onde tinha saído.
Sem dúvida, uma incrível economia de tempo, essas viagens de metrô. Levamos cinco minutos subterrâneos para percorrer uma hora de superfície, digamos assim. Mas a paisagem... Nem digo a dos campos, rios e montanhas que meus antigos trens atravessavam; mesmo uma avenida ou um viaduto paulistanos são encantadores diante do concreto pardo que hipnotiza a gente. Por isso, sair pela porta automática, subir a escadaria rolante e reencontrar o ar e a luz do dia (ou mesmo as sombras da noite) é uma experiência de renascimento.
Mas não nos queixemos. Nem tudo são belas paisagens sobre a terra. Os negócios precisam caminhar, as providências cotidianas têm que ser tomadas, as cidades são enormes e todos (ou quase todos) temos pressa. Faz parte das nossas contradições metropolitanas distanciar pessoas e imaginar meios para reaproximá-las. Depois que inventamos o muito longe, tivemos que inventar o muito rápido. Depois que ocupamos toda a área da superfície urbana, precisamos criar os quilômetros fundos dos túneis cegos. As minhocas, que não conhecem civilização, queixam-se quando as arrancamos da terra, contorcem- se furiosamente. Mas, se tivessem olhos e houvessem andado de trem quando meninas, talvez não estimassem tanto suas lentas caminhadas no fundo da terra.
(Urbano Mesquita, inédito)
Atentando-se para aspectos da construção do texto, é correto afirmar que o autor
a)
se equivocou ao empregar a forma verbal no plural em Nem tudo são belas paisagens. (3.º parágrafo) |
b)
empregou as reticências em Mas a paisagem... (2.º parágrafo) para melhor sugerir o mudo fascínio que ela lhe despertou. |
c)
emprega criativamente o termo subterrâneos, (2.º parágrafo) de conotação espacial, para qualificar uma expressão de sentido temporal. |
d)
se dirige, em Mas não nos queixemos (3.º parágrafo), àqueles que se queixam de tantos negócios e providências que nos afligem. |
e)
se refere ironicamente à cegueira das minhocas, já que elas representam a poesia das visões de suas viagens de menino. (3.º parágrafo) |
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