Wolfgang Amadè Mozart, como ele costumava escrever seu nome, era um homem baixo, com um rosto comum marcado pela varíola, cujo traço mais marcante era um par de olhos azul-cinzentos profundos. Dizia-se que, quando estava de bom humor, era caloroso. Mas com frequência dava a impressão de não estar inteiramente presente, como se sua mente estivesse concentrada em algum evento invisível.
Ele nasceu no arcebispado de Salzburgo em 1756 e morreu na capital imperial de Viena em 1791. Era um ser totalmente urbano que jamais teve muito a dizer sobre os encantos da natureza. Filho das classes artesãs − seus ancestrais eram tecelões e pedreiros −, ele adotou modas aristocráticas. Era fisicamente agitado, espirituoso e obsceno. Obtinha sucesso considerável, embora soubesse que merecia mais.
Quando criança, Mozart foi anunciado em Londres como “prodígio” e “gênio”. Elogios desse tipo, por mais justificados que sejam, cobram seu preço na humildade de um homem. Mozart, ele mesmo admitia, podia ser tão “orgulhoso quanto um pavão”. A presunção leva com facilidade à paranoia, e Mozart não estava imune.
Certa época, em Viena, agarrou-se à ideia de que Antonio Salieri, o mestre de capela imperial, estava tramando contra ele. A despeito da existência ou não dessas intrigas, Mozart não estava acima da politicagem. A jocosidade era o que o salvava. Seu correspondente nos tempos modernos talvez seja George Gershwin, que era encantador e apaixonado por si mesmo em igual medida.
As atuais tentativas de encontrar uma camada melancólica na psicologia de Mozart não foram convincentes. Em sua correspondência, uma ou duas vezes ele exibe sintomas depressivos − aludindo a seus pensamentos negros, descrevendo sensações de frieza e vacuidade −, mas o contexto das cartas é fundamental: no primeiro caso, ele está implorando por dinheiro e, no segundo, está dizendo à esposa como sente falta dela. Dos sete filhos de Leopold e Maria Anna Mozart, Wolfgang foi um dos dois que sobreviveram à primeira infância; apenas dois de seus próprios filhos viveram até a idade adulta. Contra esse pano de fundo, Mozart parece, na verdade, infatigavelmente otimista.
(Adaptado de Alex Ross. Escuta só. Trad. Pedro Maia Soares. São Paulo, Cia. das Letras, 2011, p. 93-95)
Conclui-se que Mozart tinha opinião elogiosa sobre si mesmo a partir do segmento transcrito em:
a)
Mozart, ele mesmo admitia, podia ser |
b)
A jocosidade era o que o salvava. |
c)
Em sua correspondência, uma ou duas vezes ele exibe sintomas depressivos. |
d)
Era um ser totalmente urbano que jamais teve muito a dizer sobre os encantos da natureza. |
e)
... Mozart não estava acima da politicagem. |
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