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Comentários / CEF - Caixa Econômica Federal - Advogado - CESGRANRIO - 2012 - Prova Objetiva


A palavra

					Freud costumava dizer que os escritores precederam
        			os psicanalistas na descoberta do inconsciente.
        			Tudo porque literatura e psicanálise têm um
        			profundo elo em comum: a palavra.
			5               Já me perguntei algumas vezes como é que uma
        			pessoa que tem dificuldade com a palavra consegue
        			externar suas fantasias e carências durante uma te-
        			rapia. Consultas são um refinado exercício de comu-
        			nicação. Se relacionamentos amorosos fracassam
			10   por falhas na comunicação, creio que a relação tera-
        			pêutica também poderá naufragar diante da impossi-
        			bilidade de o paciente se fazer entender.
             				Estou lendo um belo livro de uma autora que,
        			além de poeta, é psicanalista, Sandra Niskier Flanzer.
			15             E o livro se chama justamente “a pa-lavra”, assim, em
        			minúsculas e salientando o verbo contido no substanti-
        			vo. Lavrar: revolver e sulcar a terra, prepará-la para
        			o cultivo.
             				Se eu tenho um Deus, e tenho alguns, a palavra
			20  é certamente um deles. Um Deus feminino, porém
        			não menos dominador. Ela, a palavra, foi determinan-
        			te na minha trajetória não só profissional, mas exis-
        			tencial. Só cheguei a algum lugar nessa vida por me
        			expressar com clareza, algo que muitos consideram
			25  fácil, mas fácil é escrever com afetação. A clareza
        			exige simplicidade, foco, precisão e generosidade. A
        			pessoa que nos ouve e que nos lê não é obrigada a
        			ter uma bola de cristal para descobrir o que queremos
        			dizer. Falar e escrever sem necessidade de tradução
			30  ou legenda: eis um dom que é preciso desenvolver
        			todos os dias por aqueles que apreciam viver num
        			mundo com menos obstáculo.
             				A palavra, que ferramenta.
             				É uma pena que haja tamanha displicência em
			35  relação ao seu uso. Poucos se dão conta de que ela
        			é a chave que abre as portas mais emperradas, que
        			ela facilita negociações, encurta caminhos, cria laços,
        			aproxima as pessoas. Tanta gente nasce e morre
        			sem dialogar com a vida. Contam coisas, falam por
			40  falar, mas não conversam, não usam a palavra como
        			elemento de troca. Encantam-se pelo som da própria
        			voz e, nessa onda narcísica, qualquer palavra lhes
        			serve.
             				Mas não. Não serve qualquer uma.
			45         	A palavra exata é um pequeno diamante. Embeleza
        			tudo: o convívio, o poema, o amor. Quando
        			a palavra não tem serventia alguma, o silêncio man-
        			tém-se no posto daquele que melhor fala por nós.
             				Em terapia – voltemos ao assunto inicial – temos
			50  que nos apresentar sem defesas, relatar impressões
        			do passado, tornar públicas nossas aflições mais se-
        			cretas, perder o pudor diante das nossas fraquezas,
        			ser honestos de uma forma quase violenta, tudo em
        			busca de uma “absolvição” que nos permita viver sem
			55  arrastar tantas correntes. Como atingir o ponto nevrálgico
        			das nossas dores sem o bisturi certeiro da
        			palavra? É através dela que a gente se cura.

MEDEIROS, Martha. A palavra. Revista O Globo. 18 set. 2011.

Questão:

No segundo parágrafo, ao se referir à comunicação, a cronista valoriza a terapia, expressando seu ponto de vista em relação a esta.

O recurso linguístico que evidencia isso é o uso do(a)

Resposta errada
a)

advérbio (l . 5)

Resposta errada
b)

pronome possessivo suas (l . 7)

Resposta correta
c)

adjetivo refinado (l . 8)

Resposta errada
d)

conjunção se (l . 9)

Resposta errada
e)

verbo entender (l . 12)

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