1 É fato reconhecido que a semelhança ou mesmo a similitude perfeita entre pares de coisas não faz de uma a imitação da outra. As imitações contrastam com a realidade, 4 mas não posso usar na análise da imitação um dos termos que pretendo esclarecer. Dizer “isto não é real” certamente contribui para o prazer das pessoas com as representações 7 imitativas, de acordo com um admirável estudo de psicologia escrito por Aristóteles. “A visão de determinadas coisas nos causa angústia”, escreve Aristóteles na Poética, “mas 10 apreciamos olhar suas imitações mais perfeitas, sejam as formas de animais que desprezamos muito, sejam cadáveres”. Esse tipo de prazer pressupõe o conhecimento de que seu 13 objeto é uma imitação, ou, correlativamente, o conhecimento de que não é real. Há, portanto, uma dimensão cognitiva nessa forma de prazer, assim como em muitos outros prazeres, 16 inclusive os mais intensos. Suponho que o prazer de comer determinadas coisas pressupõe algumas crenças, como a de que elas são realmente 19 o que pensamos estar comendo, mas a comida pode se tornar um punhado de cinzas quando se descobre que isso não é verdade — que é carne de porco, para um judeu ortodoxo, ou 22 carne de vaca, para um hindu praticante, ou carne humana, para a maioria de nós (por mais que o sabor nos agrade). Não é preciso sentir a diferença para haver uma diferença, pois o 25 prazer de comer é geralmente mais complexo, pelo menos entre os seres humanos, do que o prazer de sentir o gosto. Saber que algo é diferente pode fazer diferença para o gosto que 28 sentimos. Se não o fizer, é que a diferença de gostos talvez não seja uma coisa que preocupe o bastante para que as respectivas crenças sejam um requisito do prazer.
Arthur C. Danto. A transfiguração do lugar-comum: uma filosofia da arte. Trad. Vera Pereira. São Paulo: Cosac Naify, 2005, p. 49-50 (com adaptações).
Em relação aos aspectos interpretativos do texto apresentado, assinale a opção correta.
a)
No texto, defende-se a ideia de que as imitações opõem-se à realidade e, certamente por isso, o ser humano as aprecia, porque detém o conhecimento de que não são reais. |
b)
O autor afirma que a diferença é fundamental para se determinar o prazer que sentimos ao comer algo. |
c)
Para o autor, saber que algo é diferente faz diferença para o gosto que sentimos, razão pela qual as crenças que cada indivíduo tem sobre as coisas determinam a forma de sentir prazer. |
d)
No texto, o autor defende a igualdade entre as coisas presentes no mundo. |
e)
O autor defende que o prazer que o ser humano sente pelas coisas da vida é uma imitação. |
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