1 Eu resolvera passar o dia com os trabalhadores da estiva e via-os vir chegando a balançar o corpo, com a comida debaixo do braço, muito modestos. Em pouco, a beira do cais 4 ficou coalhada. Durante a última greve, um delegado de polícia dissera-me: — São criaturas ferozes! (...) 7 Logo que o saveiro atracou, eles treparam pelas escadas, rápidos; oito homens desapareceram na face aberta do porão, despiram-se, enquanto os outros rodeavam o guincho e 10 as correntes de ferro começavam a ir e vir do porão para o saveiro, do saveiro para o porão, carregadas de sacas de café. Era regular, matemático, a oscilação de um lento e formidável 13 relógio. Aqueles seres ligavam-se aos guinchos; eram parte da máquina; agiam inconscientemente. Quinze minutos depois de 16 iniciado o trabalho, suavam arrancando as camisas. Não falavam, não tinham palavras inúteis. Quando a pilha de sacas estava feita, erguiam a cabeça e esperavam nova carga. Que 19 fazer? Aquilo tinha que ser até às 5 da tarde. (...) Esses homens têm uma força de vontade incrível. Fizeram com o próprio esforço uma classe, impuseram-na. 22 Hoje, estão todos ligados, exercendo uma mútua polícia para a moralização da classe. A União dos Operários Estivadores consegue, com uns estatutos que a defendem habilmente, o seu 25 nobre fim. (...) Que querem eles? Apenas ser considerados homens dignificados pelo esforço e a diminuição das horas de trabalho, 28 para descansar e para viver.
João do Rio. Os trabalhadores de estiva. In: A alma encantadora das ruas. Paris:
Garnier, 1908. Internet: <www.dominiopublico.gov.br> (com adaptações).
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