Na minha juventude, tive um grande amigo que era estudante de Direito. Ele questionava muito sua vocação para os estudos jurídicos, pois também alimentava enorme interesse por literatura, sobretudo pela poesia, e não achava compatíveis a linguagem de um código penal e a freqüentada pelos poetas. Apesar de reconhecer essa diferença, eu o animava, sem muita convicção, lembrando-lhe que grandes escritores tinham formação jurídica, e esta não lhes travava o talento literário.
Outro dia reencontrei-o, depois de muitos anos. É juiz de direito numa grande comarca, e parece satisfeito com a profissão. Hesitei em lhe perguntar sobre o gosto pela poesia, e ele, parecendo adivinhar, confessou que havia publicado alguns livros de poemas – “inteiramente despretensiosos”, frisou. Ficou de me mandar um exemplar do último, que havia lançado recentemente.
Hoje mesmo recebi o livro, trazido em casa por um amigo comum. Os poemas são muito bons; têm uma secura de estilo que favorece a expressão depurada de finos sentimentos. Busquei entrever naqueles versos algum traço bacharelesco, alguma coisa que lembrasse a linguagem processual. Nada. Não resisti e telefonei ao meu amigo, perguntando-lhe como conseguiu elidir tão completamente sua formação e sua vida profissional, freqüentando um gênero literário que costuma impelir ao registro confessional. Sua resposta:
Meu caro, a objetividade que tenho de ter para julgar os outros comunica-se com a objetividade com que busco tratar minhas paixões. Ser poeta é afinar palavra justas e precisos sentimentos. Justeza e justiça podem ser irmãs.
E eu que nunca tinha pensado nisso...
(Ariovaldo Cerqueira, inédito)
O argumento em favor da plena compatibilidade entre a linguagem da poesia e a das práticas jurídicas está formulado na seguinte frase:
a)
É juiz de direito numa grande comarca, e parece satisfeito com a profissão. |
b)
Apesar de reconhecer essa diferença, eu o animava, sem muita convicção (...) |
c)
(...) têm uma secura de estilo que favorece a expressão depurada de finos sentimentos. |
d)
(...) conseguiu elidir tão completamente sua formação e sua vida profissional (...) |
e)
Justeza e justiça podem ser irmãs. |
Copyright © Tecnolegis - 2010 - 2024 - Todos os direitos reservados.