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Comentários / Defensoria Pública do Estado - Tocantins - COPESE - 2012 - Prova Genérica - Questões 31 a 45 (Genérica)


Diante da lei

O fragmento a seguir será o texto base para se responder(em) a(s) questão(ões) a seguir desta prova. Ele compõe a obra “O Processo”, escrita pelo tcheco Franz Kafka (em tradução de Torrieri Guimarães. São Paulo: Abril Cultural, 1979. p. 228- 230.). Autores e estudiosos têm denominado o excerto como sendo uma parábola, intitulando-a “Diante da lei”.

 
1          Diante da lei está postado um guarda. Até ele se chega
           um homem do campo que lhe pede que o deixe entrar na
           lei. Mas o sentinela lhe diz que nesse momento não é
           permitido entrar. O homem reflete e depois pergunta se
5          mais tarde lhe será permitido entrar. “É possível”, diz o
           guarda, “mas agora não.” A grande porta que dá para a
           lei está aberta de par em par como sempre, e o guarda se
           põe de lado; então o homem, inclinando-se para diante,
           olha para o interior através da porta. Quando o guarda
10         percebe isso desata a rir e diz: “Se tanto te atrai entrar,
           procura fazê-lo não obstante a minha proibição. Mas
           guarda bem isto: eu sou poderoso e contudo não sou
           mais do que o guarda mais inferior; em cada uma das
           salas existem outros sentinelas, um mais poderoso do
15         que o outro. Eu não posso suportar já sequer o olhar do
           terceiro”. O camponês não esperara tais dificuldades;
           parece-lhe que a lei tem de ser acessível sempre a todos,
           mas agora que examina com maior atenção o guarda,
           envolto em seu abrigo de peles, que tem grande nariz
20         pontiagudo e barba longa, delgada e negra à moda dos
           tártaros, decide que é melhor esperar até que lhe deem
           permissão para entrar. O guarda dá-lhe então um
           escabelo e o faz sentar-se a um lado, frente à porta. Ali
           passa o homem, sentado, dias e anos. Faz infinitas
25         tentativas para entrar na lei e cansa o sentinela com suas
           súplicas. O sentinela às vezes o submete a pequenos
           interrogatórios, pergunta-lhe por sua pátria e por muitas
           outras coisas, mas no fundo não lhe interessam
           especialmente as respostas. Pergunta como o faria um
30         grande senhor; e sempre termina por manifestar-lhe que
           ainda não pode entrar. O homem, que para realizar
           aquela viagem teve de se abastecer de muitas coisas,
           emprega tudo, por mais valioso que seja, para subornar o
           porteiro. Este aceita tudo, mas diz: “Aceito-o para que não
35         julgues que te descuidaste de alguma coisa”. Durante
           muitos anos aquele homem não afasta os seus olhos do
           sentinela. Esquece-se dos outros sentinelas e chega a
           parecer-lhe que este primeiro é o único obstáculo que lhe
           impede entrar na lei. Nos primeiros anos maldiz a gritos
40         sua funesta sorte, mas depois, quando se torna velho,
           limita-se a grunhir entre dentes. E, como nos longos anos
           que passou estudando o sentinela, chega a conhecer
           também as pulgas de seu abrigo de pele, tornado outra
           vez à infância, roga até a essas pulgas para que o
45         auxiliem a quebrar a resistência do guarda. Por fim vê
           que a luz que seus olhos percebem é mais fraca e não
           consegue distinguir se realmente se fez noite ao redor
           dele ou se simplesmente são os olhos que o enganam.
           Mas agora, em meio às trevas, percebe um raio de luz
50         inextinguível através da porta. Resta-lhe pouca vida.
           Antes de morrer concentram-se em sua mente todas as
           lembranças e pensamentos daquele tempo em uma
           pergunta que até esse momento não tinha ainda
           formulado ao sentinela. Como seu corpo já rígido não se
55         pode mover, faz um sinal ao guarda para que se
           aproxime. Este precisa inclinar-se profundamente pois a
           diferença de dimensões entre um e outro chegou a fazerse
           muito grande em virtude do empequenecimento do
           homem. “Que é o que ainda queres saber?”, pergunta o
60         sentinela. “És incontestável”. “Dize-me”, diz o homem, “se
           todos desejam entrar na lei, como se explica que em
           tantos anos ninguém, além de mim, tenha pretendido
           fazê-lo?” O guarda percebe que o homem está já às
           portas da morte, de modo que para alcançar o seu ouvido
65         moribundo ruge sobre ele: “Ninguém senão tu podia
           entrar aqui, pois esta entrada estava destinada apenas
           para ti. Agora eu me vou e a fecho”.

Questão:

Considere o período a seguir: “A grande porta que dá para a lei está aberta de par em par como sempre, e o guarda se põe de lado; então o homem, inclinando-se para diante, olha para o interior através da porta.” (linhas 6 a 9). Nesse trecho, a palavra em destaque estabelece relação de:

Resposta errada
a)

Causalidade entre dois argumentos.

Resposta correta
b)

Conclusão entre dois segmentos do texto.

Resposta errada
c)

Proximidade entre um ocorrido e sua objeção.

Resposta errada
d)

Temporalidade entre duas sequências factuais.

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