1 No final de 1865, d. Pedro II solicitou a José Antônio Pimenta Bueno, futuro visconde, depois marquês de São Vicente, que realizasse estudos preliminares e elaborasse propostas de ação legislativa visando à emancipação dos escravos. O trabalho de Pimenta Bueno seria depois discutido em sessões do Conselho de Estado pleno. O objetivo do esforço era dotar o governo de projeto de lei sobre emancipação a ser submetido à discussão e aprovação do Legislativo. Pimenta Bueno concluiu a tarefa em janeiro de 5 1866. Todavia, as dificuldades da guerra com o Paraguai e a resistência do chefe de gabinete na ocasião, o marquês de Olinda -escravocrata raivoso e empedernido -, fizeram com que o assunto fosse engavetado por alguns meses. Em meados de 1866, o interesse do imperador em promover o debate sobre o problema da escravidão recebeu novo alento com a correspondência enviada por uma prestigiosa sociedade abolicionista francesa, a Comité pour l'Abolition de l'Esclavage, solicitando-lhe que usasse o seu poder e influência para abolir a escravidão no Brasil. A resposta, assinada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, indicava que 10 o novo gabinete liberal, liderado por Zacarias de Góes e Vasconcellos, estava pronto para promover a causa. A emancipação no Brasil parecia coisa decidida, sendo apenas questão de forma e oportunidade. A resposta enviada aos abolicionistas franceses surpreendeu políticos e grandes proprietários. Foi, na verdade, a moldura para os debates sobre o trabalho de Pimenta Bueno, então visconde de São Vicente, no Conselho de Estado, em abril de 1867. Os conselheiros estavam numa situação delicada. Confrontados com a determinação do imperador em fazer caminhar o problema da 15 emancipação, ficavam talvez inibidos em opor resistência decidida à iniciativa, por mais que esta fosse de encontro às suas convicções mais íntimas. O resultado dessa tensão entre conveniência política e convicções escravocratas foi a formulação, por parte da maioria dos conselheiros, de argumentos sibilinos destinados a concordar com o imperador em que a emancipação era questão decidida, ao mesmo tempo que sustentavam a opinião de que nada devia ser feito sobre o assunto.
(Sidney Chalhoub. Escravidão e cidadania: a experiência histórica de 1871. Machado
de Assis, historiador. São Paulo: Companhia das Letras, 2003, p.139 e 140)
A resposta aos abolicionistas franceses
a)
causou mal-estar entre políticos e proprietários por ter sido elaborada e assinada por um único ministro, sem prévia participação aos seus pares e sem que, até então, tivesse havido qualquer movimento em direção à emancipação. |
b)
encobria seu verdadeiro propósito, determinado pelo imperador: ser, efetivamente, o estopim de um debate amplo e irrestrito sobre a questão abolicionista no Brasil. |
c)
produziu, da parte dos conselheiros do Brasil Imperial, em virtude do choque de interesses instituído, o curioso espetáculo de um país em que se condenava a escravidão, mas em que quase ninguém queria dar um passo para viver sem ela. |
d)
acarretou uma retórica oficial que condenava a defesa dos interesses dos proprietários de escravos, postos estes em situação delicada de defender aberta e aguerridamente perante a nação a permanência do regime escravocrata. |
e)
desnudou ao mundo que o Brasil tornara-se o último baluarte da escravidão no Ocidente, estando disposto a tudo fazer para manter-se nessa posição. |
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