1 As manifestações que deslancharam a Primavera Árabe tiveram início num ato isolado de desespero. Em dezembro de 2010, o tunisiano Mohamed Bouazizi ateou fogo ao corpo e desencadeou uma revolta contra a situação econômica em seu país, onde o desemprego afligia um quarto da população. Tendem ao simplismo, como se sabe, as explicações puramente econômicas para eventos sociais. São ainda menos 5 consistentes as tentativas de atribuir um motivo genérico e unilateral a reações eminentemente complexas, como as que atravessam a psicologia e a história peculiar a cada indivíduo. Contra o pano de fundo do desemprego estrutural, o ato de desespero do jovem tunisiano surgiu após os violentos achaques da polícia, aos quais ele era submetido por tentar a sobrevivência como vendedor ambulante sem licença. Autoritarismo, repressão, conflitos religiosos e economia misturaram-se naquele momento, e seria incerto transferir esse 10 quadro específico para os países europeus, por exemplo, onde a crise tem determinado índices similares de desemprego, e ainda mais elevados entre os jovens. O desespero, entretanto, não é menor no mundo desenvolvido e produz efeitos equivalentes, no plano individual, aos que se abateram sobre o ambulante da Tunísia. [...] 15 Não é apenas a privação econômica, certamente grave, mas ainda assim amenizada por décadas de progresso social, o que se abate sobre largas parcelas da população nos países desenvolvidos. A ausência de perspectivas, especialmente entre os mais jovens, propicia uma sensação psicológica em que o indivíduo se vê como que dispensado de prosseguir numa vida útil, diante de um mecanismo impessoal e cego, que a esfera política só aparentemente se acha em condições de administrar. 20 Talvez seja exagero prever uma "Primavera Europeia" em países como Espanha, Grécia e Portugal, caso ali persistam os atuais índices de desemprego. É inegável, entretanto, que pouco se tem feito para dissipar tamanho surto de aflições.
(Folha de S.Paulo, opinião, p. 2A, 7/ 11/2012)
Considere o que se afirma sobre o título do editorial.
I. Embora sem prejuízo da compreensão, constitui um deslize, pois o padrão culto escrito preconiza a forma única "em desespero de causa".
II. Constitui um juízo de valor.
III. Caracteriza um último recurso, após todas as tentativas possíveis.
IV. Expressa interpretação da realidade, interpretação realizada com a neutralidade inerente ao jornalismo.
Está correto o que se afirma APENAS em
a)
I e III. |
b)
II e III. |
c)
I e IV. |
d)
III e IV. |
e)
I e II. |
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