1 Não é preciso muito esforço para notar de que é
feito o cotidiano de um indivíduo brasileiro
socioeconomicamente privilegiado. Os assuntos da vida
4 privada são, de longe, os que dominam qualquer outro tipo
de preocupação. No entanto, o cuidado excessivo com o
bem-estar não apenas realimenta a cultura do alheamento
7 como reduplica-se em irresponsabilidade para consigo.
A rede de atendimento aos “famintos de felicidade”
tornou-se um negócio rendoso, e os usuários, para mantê-la,
10 exigem mais exploração dos que já são superexplorados.
Quem vive permanentemente na infelicidade não pode olhar
o outro como alguém com quem possa ou deva preocupar-se.
13 O sentimento íntimo de quem padece é de que o mundo lhe
deve alguma coisa, e não de que ele deva qualquer coisa ao
mundo. O “comércio de felicidade” é orquestrado de tal
16 modo que o sentimento de deficiência, escassez ou privação
pede sempre mais dinheiro e mais atenção para consigo,
como meio de evitar a presença avassaladora das frustrações
19 emocionais.
Jurandir Freire. A ética democrática e seus inimigos – o lado privado da violência
pública. In: Ari Roitman (Org). O desafio ético, 2000, p. 83-4 (com adaptações).
Com base nas ideias e estruturas do texto , julgue o(s) item(ns) a seguir:
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