1 A multiplicidade dos seres humanos traduz-se por uma forma de ordem singular. O que há de único na vida em comum dos homens gera realidades particulares, especificamente 4 sociais, que são impossíveis de explicar ou compreender a partir do indivíduo. A língua é uma boa ilustração disso. Que impressão nos causaria descobrir, ao acordarmos numa bela 7 manhã, que todos os outros homens falam uma língua que não compreendemos? Sob uma forma paradigmática, a língua encarna esse tipo de dados sociais, que pressupõem uma 10 multiplicidade de seres humanos organizados em sociedades e os quais, ao mesmo tempo, não param de se reindividualizar. Esses dados como que se reimplantam em cada novo membro 13 de um grupo, norteiam seu comportamento e sua sensibilidade, e constituem o habitus social a partir do qual se desenvolverão nele os traços distintivos que o contrastarão com os outros no 16 seio do grupo. O modelo linguístico comum admite variações individuais, até certo ponto. Mas, quando essa individualização vai longe demais, a língua perde sua função de meio de 19 comunicação dentro do grupo. Entre outros exemplos, citemos a formação da consciência moral, das modalidades de controle de pulsões e afetos numa dada civilização, ou o dinheiro e o 22 tempo. A cada um deles correspondem maneiras pessoais de agir e sentir, um habitus social que o indivíduo compartilha com outros e que se integra na estrutura de sua personalidade.
Norbert Elias. Sobre o tempo. Vera Ribeiro (Trad.).
Jorge Zahar editor, 1998, p.19 (com adaptações).
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