Atenção: A(s) questão(ões) a seguir refere(m)-se ao texto seguinte.
Num belo poema, intitulado “Traduzir-se”, Ferreira Gullar aborda o tema de uma divisão muito presente em cada um de nós: a que ocorre entre o nosso mundo interior e a nossa atuação junto aos outros, nosso papel na ordem coletiva. A divisão não é simples: costuma-se ver como antagônicas essas duas “partes” de nós, nas quais nos dividimos. De fato, em quantos momentos da nossa vida precisamos escolher entre o atendimento de um interesse pessoal e o cumprimento de um dever ético? Como poeta e militante político, Ferreira Gullar deixou-se atrair tanto pela expressão das paixões mais íntimas quanto pela atuação de um convicto socialista. Em seu poema, o diálogo entre as duas partes é desenvolvido de modo a nos fazer pensar que são incompatíveis.
Mas no último momento do poema deparamo-nos com esta estrofe:
“Traduzir uma parte na outra parte − que é uma questão de vida ou morte − será arte?”
O poeta levanta a possibilidade da “tradução” de uma parte na outra, ou seja, da interação de ambas, numa espécie de espelhamento. Isso ocorreria quando o indivíduo conciliasse verdadeiramente a instância pessoal e os interesses de uma comunidade; quando deixasse de haver contradição entre a razão particular e a coletiva. Pergunta-se o poeta se não seria arte esse tipo de integração. Realmente, com muita frequência a arte se mostra capaz de expressar tanto nossa subjetividade como nossa identidade social. Nesse sentido, traduzir uma parte na outra parte significaria vencer a parcialidade e chegar a uma autêntica participação, de sentido altamente político. O poema de Gullar deixa-nos essa hipótese provocadora, formulada com um ar de convicção.
(Belarmino Tavares, inédito)
Atente para as seguintes afirmações:
I. No primeiro parágrafo, a expressão divisão muito presente refere-se, pontualmente, ao embate que a poesia e a política costumam travar entre si.
II. Na estrofe citada de Ferreira Gullar, a ideia de traduzir uma parte / na outra parte é levantada para exprimir a impossibilidade de superação do impasse de que está tratando.
III. No terceiro parágrafo, considera-se que a hipótese provocadora é levantada de modo a sugerir uma pergunta retórica, ou seja, uma questão cuja resposta já está implícita.
Em relação ao texto, está correto o que se afirma em:
a)
I, II e III. |
b)
I e II, apenas. |
c)
II e III, apenas. |
d)
I e III, apenas. |
e)
III, apenas. |
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