1 É a revolução industrial que liberta os escravos, mas não com base na religião ou na defesa de uma ética. Pela primeira vez se generaliza uma racionalidade independente do 4 processo de sobrevivência, independente das necessidades imediatas da população. Construindo máquinas, o capitalismo pode dispensar mão de obra, criando um exército de 7 desempregados que torna mais barato o salário do homem livre do que o investimento na compra de um escravo. Além disso, parte desses homens livres, ao ter de comprar bens, cria um 10 mercado de que o processo econômico necessita para se dinamizar. Na medida em que liberta os escravos, o capitalismo da revolução industrial torna ética toda forma de exploração 13 que não implique cortar a liberdade de cada indivíduo, tanto para ser explorador, se puder, como para ser explorado, se necessitar, desde que ambos livremente. Da mesma forma, o 16 capitalismo libera todas as formas de ação econômica, tornando-as neutras e, portanto, eticamente lícitas.
Cristovam Buarque. A necessidade da ética. In: A desordem do progresso.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990, p. 21 (com adaptações).
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