1 O problema intercultural não se resolve, como pretendem os multiculturalistas, pelo simples reconhecimento da isonomia axiológica entre culturas distintas, mas, 4 fundamentalmente, pelo diálogo interpessoal entre indivíduos de culturas diferentes e, mais ainda, pelo acesso individual à própria diversidade cultural, como condição para o exercício 7 da liberdade de pertencer a uma cultura, de assimilar novos valores culturais ou, simplesmente, de se reinventar culturalmente. Aliás, o reconhecimento da isonomia axiológica 10 entre culturas é importante não porque limita a individualidade a uma estrita visão antropológica que projeta a condição humana ao círculo concêntrico da cultura do agrupamento 13 familiar e social a que pertence o indivíduo, mas porque o liberta, ao lhe dar amplitude de opção cultural, que, transcendendo a esfera da identidade individual como simples 16 parte de uma cultura, dimensiona a individualidade no campo da liberdade — da liberdade de criar a si mesmo. Por fim, a passagem para a democracia não totalitária, ou seja, 19 democracia na e para a diversidade, decorre, justamente, da sensibilização do político e da democratização do espaço pessoal, antes preso à teia indizível do monismo cultural 22 ocidental, tornando-se papel do Estado o oferecimento das condições de acessibilidade à diversidade cultural, ambiente imprescindível à autogestão da identidade pessoal.
Miguel Batista de Siqueira Filho. Democracia, direito e liberdade. Goiânia: Editora da PUC Goiás, 2011, p. 95-6 (com adaptações).
Em relação ao texto acima, julgue o(s) seguinte(s) item(ns).
A última oração do texto poderia ser reescrita, sem prejuízo das ideias veiculadas e da correção gramatical, da seguinte forma: o que torna papel do Estado oferecer às condições de acessibilidade da diversidade cultural o ambiente indispensável de autogestão da identidade pessoal.
Certa. |
Errada. |
Parece-nos importante considerar as argumentações enumeradas a seguir:
(1) No texto, o segmento “tornando-se papel do Estado” apresenta o elemento “se” que constitui um Pronome Indeterminador do Sujeito (PIS).
(2) Diferentemente do texto, o segmento “o que torna papel”, na proposta do examinador, tem por sujeito (do verbo tornar) o pronome relativo “que”, o qual retomaria o segmento anterior, identificando os sujeitos: “sensibilização do político” e a “democratização do espaço”, fato este que contraria a indeterminação apresentada no texto.
(3) Há um erro de complemento, de objeto. Quem oferece, oferece algo, ou, ainda, oferece algo a alguém (v.t.d.i.). Assim, de acordo com o texto, cabe ao Estado oferecer à sociedade as condições de acessibilidade [apresentar à sociedade as condições, levar(propor) à população as condições]. As condições determinam a qualidade do ambiente. Não se oferece um ambiente às condições - como diz o examinador - antes, sim, se oferece às condições um ambiente. Deste modo, o que se oferece - no texto - é oferecido à sociedade e não às condições.
(4) Ademais, o aposto explicativo “ambiente imprescindível à autogestão da identidade pessoal” se refere à característica promovida pela “diversidade cultural” e não, como contraditoriamente sugere o examinador, à natureza (o ambiente) daquilo que é oferecido à sociedade.
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