1 É inegável que a política de estímulo ao transporte individual motorizado é absolutamente insustentável, tanto pelo uso de recursos naturais quanto pela geração de poluição e pela 4 crescente inviabilização dos deslocamentos urbanos. Não são necessárias muitas considerações para se constatar o óbvio: os engarrafamentos quase permanentes em 7 cidades como Rio de Janeiro e São Paulo provocaram, nos últimos anos, uma queda vertiginosa na velocidade média de suas ruas. Não apenas a lentidão irritante do tráfego urbano, 10 a par da escassez de vagas, provoca desperdício de petróleo, um recurso natural não renovável, e aumento na quantidade de horas de trabalho perdidas no trânsito, como a poluição 13 decorrente desses fatos causa um número cada vez maior de casos de doenças respiratórias, sem falar nos problemas psíquicos. Os prejuízos são, ao mesmo tempo, sociais, 16 ambientais e econômicos (embora alguns setores sempre lucrem com o caos). Com a moeda estável e financiamentos em até 72 19 meses, as classes ascendentes podem realizar suas aspirações de possuir um carro novo. Certo, elas também têm direito a um carro e, além disso, tal poder de compra “é um sinal de 22 progresso social e econômico”, como tanto se ouve falar. No entanto, essa forma superficial de encarar a questão esconde que, na verdade, não há progresso algum, nem para a 25 sociedade, como um todo, nem para o feliz possuidor do carro novo. É indispensável que a sociedade tome consciência de 28 que o transporte individual nas cidades é incompatível com uma boa qualidade de vida. É importante que se renuncie à ideia falsa de conforto que o automóvel proporciona e ao seu 31 uso como mero símbolo de status. Somente modos de transporte de massa, ou seja, os movidos à energia elétrica, como trens e metrô, podem resolver tais problemas. 34 Planejamento urbano de qualidade é igualmente indispensável. Isso significa, entre outras medidas, concentrar serviços próximos ou entremeados com áreas residenciais, para 37 que se reduza a necessidade de deslocamentos; permitir escritórios de baixa movimentação de pessoas em áreas meramente residenciais; incentivar a implantação de escolas 40 de qualidade em todos os bairros; descentralizar os polos de negócio, de comércio e de finanças. Quanto mais tempo levarmos para a adoção dessas medidas, mais cara, demorada 43 e dolorosa será a tentativa de reverter a tendência de colapso no sistema de transporte urbano.
Carlos Gabaglia Penna. Transporte e meio ambiente.
Internet: < http: www.oeco.org.br > (com adaptações).
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