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Comentários / IBGE - Analista de Planejamento, Gestão e Infraestrutura - Arquivologia - CESGRANRIO - 2010 - Prova Objetiva


Texto III


        O veneno é um furo na teoria da evolução. De
        acordo com o darwinismo clássico os bichos desen-
        volvem, por seleção natural, as características que ga-
        rantem a sua sobrevivência. Adquirem seus mecanis-
5       mos de defesa e ataque num longo processo em que
        o acaso tem papel importante: a arma ou o disfarce
        que o salva dos seus predadores ou facilita o assédio
        a suas presas é reproduzido na sua descendência, ou
        na descendência dos que sobrevivem, e lentamente
10      incorporado à espécie. Mas a teoria darwiniana de pro-
        gressivo aparelhamento das espécies para a sobrevi-
        vência não explica o veneno. O veneno não evoluiu.
        O veneno esteve sempre lá.
        Nenhum bicho venenoso pode alegar que a luta
15      pela vida o fez assim. Que ele foi ficando venenoso
        com o tempo, que só descobriu que sua picada era
        tóxica por acidente, que nunca pensou etc. O veneno
        sugere que existe, sim, o mal-intencionado nato. O ruim
        desde o princípio. E o que vale para serpentes vale
20      para o ser humano. Sem querer entrar na velha dis-
        cussão sobre o valor relativo da genética e da cultura
        na formação da personalidade, o fato é que não dá
        para evitar a constatação de que há pessoas veneno-
        sas, naturalmente venenosas, assim como há pesso-
        as desafinadas.
25      A comparação não é descabida. Acredito que a
        mente é um produto cultural, e que descontadas coi-
        sas inexplicáveis como um gosto congênito por cou-
        ve-flor ou pelo “Bolero” de Ravel, somos todos dota-
30      dos de basicamente o mesmo material cefálico, pron-
        to para ser moldado pelas nossas circunstâncias. Mas
        então como é que ninguém aprende a ser afinado?
        Quem é desafinado não tem remédio. Nasce e está
        condenado a morrer desafinado. No peito de um de-
35      safinado também bate um coração, certo, e o desafi-
        nado não tem culpa de ser um desafio às teses psico-
        lógicas mais simpáticas. Mas é. Matemática se apren-
        de, até alemão se aprende, mas desafinado nunca fica
        afinado. Como venenoso é de nascença.
40      O que explica não apenas o crime patológico como
        as pequenas vilanias que nos cercam. A pura malda-
        de inerente a tanto que se vê, ouve ou lê por aí. O
        insulto gratuito, a mentira infamante, a busca da noto-
        riedade pela ofensa aos outros. Ressentimento ou
45      amargura são características humanas adquiridas,
        compreensíveis, que explicam muito disto. Pura mal-
        dade, só o veneno explica.

VERISSIMO, Luis Fernando. O Globo. 24 fev. 05.

Questão:

“Nenhum bicho venenoso pode alegar que a luta pela vida o fez assim. Que ele foi ficando venenoso com o tempo, que só descobriu que sua picada era tóxica por acidente, que nunca pensou etc.” (l. 14-17).

No trecho, o cronista faz uso do termo “que”, repetidamente.A passagem na qual o termo “que” apresenta a mesma classificação gramatical daquela desempenhada no trecho destacado é:

Resposta errada
a)

“as características que garantem a sua sobrevivência”. (l. 3-4)

Resposta errada
b)

“a arma ou o disfarce que o salva dos seus predadores”. (l. 6-7) 

Resposta errada
c)

“E o que vale para serpentes vale para o ser humano”. (l. 19-20)

Resposta correta
d)

“o fato é que não dá para evitar a constatação”. (l. 22-23) 

Resposta errada
e)

“A pura maldade inerente a tanto que se vê”. (l. 41-42)

Comentários

- 28/10/2015 / 13:42

O que nessa frase tem função de advérbio podendo ser substituido por quão.
conforme o link abaixo
http://www.tudosobreconcursos.com/materiais/portugues/usos-da-palavra-que

- 14/10/2015 / 06:38

tambem nao consegui atribuir a classe gramatical

- 05/11/2013 / 13:07

Não sou especialista, mas creio que a opção correta, assim como o trecho, apresentam o "que" assumindo a classe gramatical de partícula expletiva, ou seja, sem elas o texto não perde nada.

- 09/10/2013 / 21:41

Por fim qual é a classe gramatical do trecho? Não consegui atribui-la.

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