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Comentários / Ministério Público Estadual - Santa Catarina - Procurador do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas - FEPESE - 2014 - Prova Objetiva


Texto 2

		Estamos todos surdos
		
		Nós, brasileiros, temos uma enorme relutância em
		conviver com opiniões contrárias das nossas
		
		Meu tio Élvio falava tão rápido e com um sotaque tão
		forte – mineirês da roça misturado a alguma coisa
		parecida com dialeto italiano da roça – que quase nin-
                guém o entendia. Honesto, trabalhador, devotava-se
		por inteiro à família. Pouco porém participava da vida
		em comunidade, porque as sentenças que pronun-
                ciava, ininteligíveis, muitas vezes o colocavam em situ-
                ações bastante complicadas, já que o interlocutor, não
		atinando com suas declarações, buscava adivinhá-las
		e depreendia o que melhor lhe aprouvesse. Só para
		se ter uma ideia do tamanho do problema, somente
		ao morrer descobrimos que seu nome não era Élvio, e
		sim Elmo. Mas, então, tarde demais. Se algum dia for a
		Rodeiro, verá inscrito em seu túmulo Élvio Gardone e
		entre parênteses Elmo Cardoni.
		
			Lembrei-me de meu tio porque cada vez mais me
		assusta a dificuldade que encontramos no dia a dia de
		manter diálogos, devido à perigosa incapacidade que
		estamos desenvolvendo de ouvir o outro. Não sei qual
		a explicação, mas tenho percebido que as pessoas
		apenas querem falar, falar, falar, e não lhes interessa
		saber o que outro pensa a respeito do assunto em
		pauta. Em geral, são como fontes, que no breu da
		noite continuam a verter água, impossibilitadas de
		refletir a paisagem em torno, encantadas unicamente
		pelo barulho que fazem e que a escuridão amplifica.
		
			Mais estranho ainda é que, em tempos de redes
		sociais, essa dificuldade de compreensão se estende
		até mesmo aos textos escritos. Ou seja, as pessoas
		tomam um trecho e, ou por o lerem de maneira desatenta
		ou por simplesmente não saberem interpretá-lo,
		rechaçam-no de maneira peremptória, encontrando
		nele coisas que não estão ali consignadas. E assim
		se destroem amizades, erguem-se desavenças, mancham-
		se reputações. Aliás, nós, brasileiros, temos uma
		enorme relutância em conviver com opiniões contrá-
                rias ou divergentes das nossas. Somos cordiais com
		todos aqueles que, de alguma maneira, comungam
		conosco pontos de vista similares, mas basta o menor
		sinal de contrariedade para demonstrarmos toda a
		nossa intolerância. Como não estamos acostumados
		ao exercício do diálogo, ao invés de buscar convencer
		o outro com argumentos, partimos imediatamente
		para a tentativa de aniquilá-lo, utilizando subterfúgios
		como a chacota, o sarcasmo, a desinformação e até
		mesmo a canalhice pura e simples.

				RUFATTO, Luiz. Disponível em http://brasil.elpais.com/brasil/
				2014/08/12/opinion/1407871072_537360.html.
				Acessado em 18 de agosto de 2014.

Questão:

Considere os excertos abaixo e analise as afirmativas a seguir, com base no texto 2.

I. "“Meu tio Élvio falava tão rápido e com um sotaque tão forte – mineirês da roça misturado a alguma coisa parecida com dialeto italiano da roça – que quase ninguém o entendia.” "(primeiro parágrafo)

II. "“Só para se ter uma ideia do tamanho do problema, somente ao morrer descobrimos que seu nome não era Élvio, e sim Elmo."” (primeiro parágrafo)

III. "“Lembrei-me de meu tio porque cada vez mais me assusta a dificuldade que encontramos no dia a dia de manter diálogos, devido à perigosa incapacidade que estamos desenvolvendo de ouvir o outro."” (segundo parágrafo)

Analise as afirmativas:

1. Em I, os termos sublinhados são adjetivos que qualificam os substantivos que os antecedem.

2. Em I, os travessões são usados para intercalar uma explicação valorativa do autor, podendo ser corretamente substituídos, sem prejuízo de sentido, por vírgulas.

3. Em II, construção "“e sim”" envolve dois deslizes gramaticais: além de estar indevidamente antecedida por vírgula, é uma expressão coloquial que quebra o tom formal do texto, devendo ser substituída por “"mas”".

4. Em III, o uso do sinal indicativo de crase é opcional, pois a locução prepositiva "“devido a”" não exige o emprego obrigatório de crase.

5. Em III, o autor, com fins argumentativos, evoca uma experiência pessoal para ilustrar uma situação de caráter geral.

Assinale a alternativa que indica todas as afirmativas corretas.

Resposta errada
a)

São corretas apenas as afirmativas 1 e 5.

Resposta correta
b)

São corretas apenas as afirmativas 2 e 5.

Resposta errada
c)

São corretas apenas as afirmativas 1, 3 e 4.

Resposta errada
d)

São corretas apenas as afirmativas 2, 3 e 4,.

Resposta errada
e)

São corretas apenas as afirmativas 2, 4 e 5.

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