1 Talvez o distinto leitor ou a irresistível leitora sejam naturais, caso em que me apresso a esclarecer que nada tenho contra os naturais, antes pelo contrário. Na verdade, alguns dos 4 meus melhores amigos são naturais. Como, por exemplo, o festejadíssimo cineasta patrício Geraldo Sarno, que é baiano e é natural — pois neste mundo as combinações mais loucas são 7 possíveis. Certa feita, estava eu a trabalhar em sua ilustre companhia quando ele me convidou para almoçar (os cineastas, tradicionalmente, têm bastante mais dinheiro do que os 10 escritores; deve ser porque se queixam muito melhor). Aceito o convite, ele me leva a um restaurante que, apesar de simpático, me pareceu um pouco estranho. Por que a maior 13 parte das pessoas comia com ar religioso e contrito? Que prato seria aquele que, olhos revirados para cima, mastigação estoica, e expressão de quem cumpria dever penosíssimo, um 16 casal comia, entre goles de uma substância esverdeada e viscosa que lentamente se decantava — para grande prejuízo de sua já emética aparência — numa jarra suspeitosa? Logo fui 19 esclarecido, quando meu companheiro e anfitrião, os olhos cintilantes e arregalados, me anunciou: — Surpresa! Vais comer um almoço natural!
João Ubaldo Ribeiro. A vida natural. In: Arte e ciência de roubar galinha. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998.
Acerca das ideias e das estruturas linguísticas do texto I, julgue o item a seguir.
No trecho ele me leva a um restaurante que, apesar de simpático, me pareceu um pouco estranho (l. 11 e 12), o elemento que introduz oração de natureza restritiva, intercalada por estrutura de valor adverbial.
Certa. |
Errada. |
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