01 — Você pensou bem no que vai fazer, Paulo? 02 — Pensei. Já estou decidido. Agora não volto atrás. 03 — Olhe lá, hein, rapaz... 04 Paulo está ao mesmo tempo comovido e surpreso com os três amigos. Assim que souberam do seu 05 divórcio iminente, correram para visitá-lo no hotel. A solidariedade lhe faz bem. Mas não entende aquela 06 insistência deles em dissuadi-lo. Afinal, todos sabiam que ele não andava muito contente com seu 07 relacionamento. 08 — Pense um pouco mais, Paulo. Reflita. Essas decisões súbitas... 09 — Mas que súbitas? Estamos praticamente separados há um ano! 10 — Dê outra chance ao seu casamento, Paulo. 11 — A Margarida é uma ótima mulher. 12 — Espera um pouquinho. Você mesmo deixou de frequentar nossa casa por causa da Margarida, depois 13 que ela chamou vocês de bêbados e quase expulsou todo mundo. 14 — E fez muito bem. Nós estávamos bêbados e tínhamos que ser expulsos. 15 — Outra coisa, Paulo. O divórcio. Sei lá. 16 — Eu não entendo mais nada. Você sempre defendeu o divórcio! 17 — É. Mas quando acontece com um amigo... 18 — Olha, Paulo. Eu não sou moralista. Mas acho a família uma coisa importantíssima. Acho que a família 19 merece qualquer sacrifício. 20 — Pense nas crianças, Paulo. No trauma. 21 — Mas nós não temos filhos! 22 — Nos filhos dos outros, então. No mau exemplo. 23 — Mas isto é um absurdo! Vocês estão falando como se fosse o fim do mundo. Hoje, o divórcio é uma 24 coisa comum. Não vai mudar nada. 25 — Como, não muda nada? 26 — Muda tudo! 27 — Você não sabe o que está dizendo, Paulo! Muda tudo. 28 — Muda o quê? 29 — Bom, pra começar, você não vai poder mais frequentar as nossas casas. 30 — As mulheres não vão tolerar. 31 — Você se transformará num pária social, Paulo. 32 — Como é que é?! 33 — Fora de brincadeira. Um reprobo. 34 — Puxa. Eu nunca pensei que vocês... 35 — Pense bem, Paulo. Dê tempo ao tempo. 36 — Deixe pra decidir depois. Passado o verão. 37 — Reflita, Paulo. É uma decisão seriíssima. Deixe para mais tarde. 38 — Está bem. Se vocês insistem... 39 Na saída, os três amigos conversam: 40 — Será que ele se convenceu? 41 — Acho que sim. Pelo menos vai adiar. 42 — E no “solteiros contra casados” da praia, neste ano, ainda teremos ele no gol. 43 — Também, a ideia dele. Largar o gol dos casados logo agora. Em cima da hora. Quando não dava mais 44 para arranjar substituto. 45 — Os casados nunca terão um goleiro como ele. 46 — Se insistirmos bastante, ele desiste definitivamente do divórcio. 47 — Vai aguentar a Margarida pelo resto da vida. 48 — Pelo time dos casados, qualquer sacrifício serve. 49 — Me diz uma coisa. Como divorciado, ele podia jogar no time dos solteiros? 50 — Podia. 51 — Impensável. 52 — É. 53 — Outra coisa. 54 — Fala. 55 — Não é reprobo. É réprobo. Acento no “e”. 56 — Mas funcionou, não funcionou?
Adaptado de VERISSIMO, Luis Fernando. “Os Moralistas”.
Disponível em www.releituras.com/lfverissimo_moralistas.asp.
Acessado em 12 de novembro de 2014.
Assinale a alternativa que apresenta a versão INCORRETA de uma das falas dos amigos de Paulo, caso estivesse escrita em discurso indireto.
a)
O amigo de Paulo perguntou a ele se ele tinha pensado bem no que iria fazer (linha 01). |
b)
O amigo de Paulo pediu para que Paulo desse outra chance ao seu casamento (linha 10). |
c)
O amigo de Paulo disse que Margarida era uma ótima mulher (linha 11). |
d)
O amigo de Paulo disse que os casados nunca teriam um goleiro como ele (linha 45). |
e)
O amigo de Paulo disse que se insistirmos bastante, ele desiste definitivamente do divórcio (linha 46). |
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