1 Estudante sou, nada mais. Mau sabedor, fraco jurista, mesquinho advogado, pouco mais sei do que saber estudar, saber como se estuda, e saber que tenho estudado. Nem isso 4 mesmo sei se saberei bem. Mas, do que tenho logrado saber, o melhor devo às manhãs e madrugadas. Muitas lendas se têm inventado, por aí, sobre excessos da minha vida laboriosa. 7 Deram, nos meus progressos intelectuais, larga parte ao uso em abuso do café e ao estímulo habitual dos pés mergulhados n’água fria. Contos de imaginadores. Refratário sou ao café. 10 Nunca recorri a ele como a estimulante cerebral. Nem uma só vez na minha vida busquei num pedilúvio o espantalho do sono. 13 Ao que devo, sim, o mais dos frutos do meu trabalho, a relativa exabundância de sua fertilidade, a parte produtiva e durável da sua safra, é às minhas madrugadas. Menino ainda, 16 assim que entrei para o colégio, alvidrei eu mesmo a conveniência desse costume, e daí avante o observei, sem cessar, toda a vida. Eduquei nele o meu cérebro, a ponto de 19 espertar exatamente à hora, que comigo mesmo assentava, ao dormir. Sucedia, muito amiúde, encetar eu a minha solitária banca de estudo à uma ou às duas da antemanhã. Muitas vezes 22 me mandava meu pai volver ao leito; e eu fazia apenas que lhe obedecia, tornando, logo após, àquelas amadas lucubrações, as de que me lembro com saudade mais deleitosa e entranhável. 25 Tenho, ainda hoje, convicção de que nessa observância persistente está o segredo feliz, não só das minhas primeiras vitórias no trabalho, mas de quantas vantagens 28 alcancei jamais levar aos meus concorrentes, em todo o andar dos anos, até à velhice. Muito há que já não subtraio tanto às horas da cama, para acrescentar às do estudo. Mas o sistema 31 ainda perdura, bem que largamente cerceado nas antigas imoderações. Até agora, nunca o sol deu comigo deitado e, ainda hoje, um dos meus raros e modestos desvanecimentos é 34 o de ser grande madrugador, madrugador impenitente. Rui Barbosa. Oração aos moços. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1997, p. 31.
Assinale a opção correta em relação aos aspectos linguísticos do texto.
a)
Seriam mantidos o sentido original do texto e sua correção gramatical caso o pronome “o”, em “e daí avante o observei, sem cessar” (l.17 e 18), fosse substituído por lhe. |
b)
A forma verbal “Sucedia” (l.20) está empregada, no texto, no sentido de Seguir-se. |
c)
Nas linhas 2 e 3, as orações “estudar”, “como se estuda” e “que tenho estudado” não possuem o mesmo sujeito. |
d)
O pronome “nele” em “Eduquei nele o meu cérebro” (l. 18) faz referência ao termo “trabalho” (l.13). |
e)
No trecho “Muitas vezes me mandava meu pai volver ao leito” (l.21 e 22), a expressão “meu pai”, que exerce a função de complemento da forma verbal “mandava”, é o agente da forma verbal “volver”. |
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