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Comentários / Tribunal de Justiça - Ceará - Analista Judiciário - Judiciária - Judiciária - CESPE - UnB - 2014 - Prova Objetiva


Oração aos moços

	1 		Estudante sou, nada mais. Mau sabedor, fraco jurista,
		mesquinho advogado, pouco mais sei do que saber estudar,
		saber como se estuda, e saber que tenho estudado. Nem isso
	4 	mesmo sei se saberei bem. Mas, do que tenho logrado saber, o
		melhor devo às manhãs e madrugadas. Muitas lendas se têm
		inventado, por aí, sobre excessos da minha vida laboriosa.
	7 	Deram, nos meus progressos intelectuais, larga parte ao uso em
		abuso do café e ao estímulo habitual dos pés mergulhados
		n’água fria. Contos de imaginadores. Refratário sou ao café.
	10 	Nunca recorri a ele como a estimulante cerebral. Nem uma só
		vez na minha vida busquei num pedilúvio o espantalho do
		sono.
	13 		Ao que devo, sim, o mais dos frutos do meu trabalho,
		a relativa exabundância de sua fertilidade, a parte produtiva e
		durável da sua safra, é às minhas madrugadas. Menino ainda,
	16 	assim que entrei para o colégio, alvidrei eu mesmo a
		conveniência desse costume, e daí avante o observei, sem
		cessar, toda a vida. Eduquei nele o meu cérebro, a ponto de
	19 	espertar exatamente à hora, que comigo mesmo assentava, ao
		dormir. Sucedia, muito amiúde, encetar eu a minha solitária
		banca de estudo à uma ou às duas da antemanhã. Muitas vezes
	22 	me mandava meu pai volver ao leito; e eu fazia apenas que lhe
		obedecia, tornando, logo após, àquelas amadas lucubrações, as
		de que me lembro com saudade mais deleitosa e entranhável.
	25 		Tenho, ainda hoje, convicção de que nessa
		observância persistente está o segredo feliz, não só das minhas
		primeiras vitórias no trabalho, mas de quantas vantagens
	28 	alcancei jamais levar aos meus concorrentes, em todo o andar
		dos anos, até à velhice. Muito há que já não subtraio tanto às
		horas da cama, para acrescentar às do estudo. Mas o sistema
	31 	ainda perdura, bem que largamente cerceado nas antigas
		imoderações. Até agora, nunca o sol deu comigo deitado e,
		ainda hoje, um dos meus raros e modestos desvanecimentos é
	34 	o de ser grande madrugador, madrugador impenitente.

				Rui Barbosa. Oração aos moços. Rio de Janeiro:
				Fundação Casa de Rui Barbosa, 1997, p. 31.

Questão:

Assinale a opção correta em relação aos aspectos linguísticos do texto.

Resposta errada
a)

Seriam mantidos o sentido original do texto e sua correção gramatical caso o pronome “o”, em “e daí avante o observei, sem cessar” (l.17 e 18), fosse substituído por lhe.

Resposta errada
b)

A forma verbal “Sucedia” (l.20) está empregada, no texto, no sentido de Seguir-se.

Resposta correta
c)

Nas linhas 2 e 3, as orações “estudar”, “como se estuda” e “que tenho estudado” não possuem o mesmo sujeito.

Resposta errada
d)

O pronome “nele” em “Eduquei nele o meu cérebro” (l. 18) faz referência ao termo “trabalho” (l.13).

Resposta errada
e)

No trecho “Muitas vezes me mandava meu pai volver ao leito” (l.21 e 22), a expressão “meu pai”, que exerce a função de complemento da forma verbal “mandava”, é o agente da forma verbal “volver”.

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