1 Papel, amigo papel, não recolhas tudo o que escrever esta pena vadia. Querendo servir me, acabarás desservindo-me, porque se acontecer que eu me vá desta vida, sem tempo de te 4 reduzir a cinzas, os que me lerem depois da missa de sétimo dia, ou antes, ou ainda antes do enterro, podem cuidar que te confio cuidados de amor. 7 Não, papel. Quando sentires que insisto nessa nota, esquiva-te da minha mesa, e foge. A janela aberta te mostrará um pouco de telhado, entre a rua e o céu, e ali ou acolá acharás 10 descanso. Comigo, o mais que podes achar é esquecimento, que é muito, mas não é tudo; primeiro que ele chegue, virá a troça dos malévolos ou simplesmente vadios. 13 Escuta, papel. O que naquela dama Fidélia me atrai é principalmente certa feição de espírito, algo parecida com o sorriso fugitivo, que já lhe vi algumas vezes. Quero estudá-la 16 se tiver ocasião. Tempo sobra-me, mas tu sabes que é ainda pouco para mim mesmo, para o meu criado José, e para ti, se tenho vagar e quê — e pouco mais. Machado de Assis. Memorial de Aires. In: Obra Completa. Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar, 1994.
No que se refere ao emprego da vírgula, assinale a opção correta.
a)
Sem prejuízo da correção gramatical do texto ou de seu sentido original, a vírgula empregada em “Escuta, papel” (l.13) poderia ser suprimida. |
b)
O emprego da vírgula em “Quando sentires que insisto nessa nota, esquiva-te da minha mesa” (l.7 e 8) é obrigatório, uma vez que a vírgula isola uma oração adverbial deslocada. |
c)
A oração introduzida pela conjunção “mas”, em “Tempo sobra-me, mas tu sabes que é ainda pouco para mim mesmo” (l.16 e 17), classifica-se como oração subordinada adverbial, o que justifica o emprego da vírgula logo após “sobra-me”. |
d)
No trecho “tu sabes que é ainda pouco para mim mesmo, para o meu criado José, e para ti” (l.16 e 17), as vírgulas foram empregadas para separar elementos de uma enumeração que exercem, a função de complemento verbal no período. |
e)
No primeiro período do texto, o emprego das vírgulas que isolam o trecho “amigo papel” deve-se à repetição do termo “papel”. |
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