Preocupada com a ameaça de repetição da crise alimentar que provocou conflitos em várias partes do mundo em 2008, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) convocou uma reunião de emergência, em Roma. As causas dos problemas atuais são bem diferentes das que, há dois anos, levaram o mundo a enfrentar uma séria crise de alimentos. Neste ano, o mundo deverá colher a terceira maior safra de grãos da história e os estoques mundiais estão em nível bem mais alto do que em 2008. Mesmo assim, as cotações de alguns dos principais produtos, de grande consumo pelas populações mais pobres do planeta, subiram muito nos últimos meses e algumas, como as do trigo, mantêm tendência de alta.
Protestos contra a alta exagerada de alguns produtos, como o pão, e a escassez de outros, já ocorreram em Moçambique, no Egito e na Índia. Na Rússia, a falta de trigo preocupa a população, e a história recente do país mostra que a escassez de produtos essenciais – como salsicha, sal e vodca, além de farinha de trigo − pode resultar em instabilidade política.
Uma combinação de pânico de escassez prolongada e um grande fluxo de investimentos que não encontram atrativos no mercado financeiro para a especulação com estoques e preços de produtos agrícolas está provocando, há alguns meses, uma alta contínua das cotações de alimentos. O índice geral de preços está no seu nível mais alto desde setembro de 2008.
Um conjunto de más notícias assustou os consumidores, que foram às compras, o que está pressionando os preços ainda mais para cima. A Rússia transformou-se na principal fonte de notícias ruins para o mercado mundial de alimentos. Assolada pela seca, que deu origem a muitos incêndios nas plantações, estima que este ano sua produção de grãos será 38% menor do que a de 2009. As inundações na Ásia destruí- ram plantações e dificultaram a distribuição de produtos, especialmente para a população mais pobre.
Nesse quadro, alguns produtores preferiram manter o produto estocado a vendê-lo pelos preços oferecidos, o que estimulou a alta. Além disso, com os juros baixos na maioria dos países, como parte das medidas de estímulo para as economias afetadas pela crise mundial, investidores estão buscando outras opções de aplicação, e as encontram no mercado de produtos agrícolas, cujos preços, por isso, sobem mais. São notícias preocupantes, mas as reservas mundiais em grãos, suficientes para cobrir a quebra de produção provocada pelos fenômenos climáticos, deveriam conter seus efeitos. Infelizmente, esse dado não está sendo levado na devida conta.
(Adaptado de O Estado de S. Paulo, Notas e Informações, A3, 12 de setembro de 2010)
Infelizmente, esse dado não está sendo levado na devida conta.
A opinião exposta no final do texto se baseia no fato de que:
a)
a FAO, órgão da ONU voltado para os problemas de alimentação, não está exercendo seu papel controlador dos estoques mundiais, para evitar a escassez de alguns produtos. |
b)
a quebra da safra de grãos, em decorrência de fenômenos climáticos extremos em diversos países, põe em risco a oferta de alimentos à população. |
c)
as reservas mundiais de grãos seriam suficientes para suprir as necessidades da população e conter a atual alta de preços dos alimentos. |
d)
a escassez de certos alimentos, especialmente na Rússia, deu origem a movimentos de revolta popular que abalaram a credibilidade do mercado mundial. |
e)
a especulação com estoques de alimentos, embora tenha proporcionado alta de preços, poderia garantir a oferta de grãos no mercado mundial. |
Copyright © Tecnolegis - 2010 - 2024 - Todos os direitos reservados.