1 Sandrinha nunca esqueceu o seu primeiro dia na redação. Os olhares que recebeu quando se encaminhou para a mesa do editor. De curiosidade. De superioridade. Ou apenas de 4 indiferença. Do editor não recebeu olhar algum. — Quem é você? — ele perguntou, sem levantar a cabeça. Sandrinha se identificou. 7 — Ah, a novata — disse ele. — Você deve ser das boas. Recém-formada e já botaram a trabalhar comigo. Você sabe o que a espera? 10 — Bem, eu... — Esqueça tudo o que aprendeu na escola. Isto aqui é a linha de frente do jornalismo moderno. Aqui você tem que ter 13 coragem. Garra. Instinto. Você acha que tem tudo isso? — Acho que sim. Ele a olhou pela primeira vez. Seu sorriso era cruel. 16 — É o que veremos — disse. — Já vi muita gente quebrar a cara aqui. Desistir e pedir transferência para a crônica policial. É preciso ter estômago. Você tem estômago? 19 — Tenho. Ele gritou: — Dalva! 22 Uma mulher aproximou-se da mesa. Tinha a cara de quem já viu tudo na vida e gostou de muito pouco. O editor perguntou: 25 — Você já pegou o Rudi? — Estou indo agora. — Leve ela. 28 Dalva olhou para Sandra como se tivesse acabado de tirá-la do nariz. Voltou a olhar para o editor. — Não sei, chefe. O Rudi... 31 — Quero ver do que ela é feita. — Está bem.
Luís Fernando Veríssimo. In: Comédias para se ler na escola, Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
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