1 O trabalho infantil no Brasil, ao longo da sua história,
nunca foi representado como um fenômeno negativo na
mentalidade da sociedade brasileira. Até a década de 1980, o
4 consenso em torno desse tema estava consolidado para entender
o trabalho como sendo um fator positivo no caso de crianças
que, dada sua situação econômica e social, viviam em
7 condições de pobreza, de exclusão e de risco social. Tanto a
elite como as classes mais pobres compartilhavam plenamente
dessa forma de encarar o trabalho infantil. Um conjunto de
10 idéias simples, mas de grande efeito, manteve-se inquestionável
durante séculos. Frases, tais como "é melhor a criança trabalhar
do que ficar na rua exposta ao crime e aos maus costumes", e,
13 ainda, "trabalhar educa o caráter da criança", traduziam a noção
fortemente arraigada de que trabalho é solução para a criança.
Se para a elite social o trabalho infantil era uma medida de
16 prevenção, para os pobres era uma maneira de sobreviver. Por
motivações diferentes, elite e classes desfavorecidas
concordavam: lugar de criança pobre é no trabalho. Esses mitos
19 culturais funcionaram como catalisadores das ações das
instituições públicas e privadas a respeito das crianças e
adolescentes trabalhadores. A inércia secular do Brasil diante
22 do trabalho social só pode ser entendida quando considerada a
força da mentalidade que albergava o trabalho infantil em seu
seio como parte da natureza das coisas. Quantitativamente, o
25 trabalho infantil diminuiu, mas as razões simbólicas necessárias
para sua existência continuam vivas na cultura brasileira.
Brasil. Plano nacional de prevenção e erradicação do trabalho infantil
e proteção ao trabalhador adolescente. Brasília: MTE, Secretaria
de Inspeção do Trabalho, 2004, p. 23-8 (com adaptações).
Com relação aos sentidos e estruturas linguísticas do texto acima, julgue o(s) item(ns) que se segue(m).
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