1 O pior poder coator, o poder mais bárbaro, aquele que
infunde o terror mais extremo, é o poder imprevisível, sobre
cujos procedimentos, reações e intervenções não é possível
4 formular qualquer antecipação racional.
Compreende-se facilmente a tese: digamos que um
monstro gigantesco habite nossa rua e o pequeno mundo em
7 que estamos confinados. Se esse Leviatã mantiver hábitos
regulares, agindo, portanto, segundo formas de ação
previsíveis, acabaremos por aprender a conviver com ele,
10 adaptando-nos a suas idiossincrasias e a seus padrões
reativos. Aprenderemos, por exemplo, pela experiência
reiterada, que só podemos caminhar pelo lado direito da rua,
13 nos dias pares. De início, faremos esforço para evitar
confusões entre os dias pares e ímpares, confusões que
poderão custar a vida sob as patas do Leviatã. Em
16 alguns anos, estaremos adaptados e acostumados à nova
realidade. Em algumas gerações, as regras para caminhar
sem riscos na rua serão parte da tradição cultural e do
19 processo de socialização das crianças, desde a mais tenra
idade. Considere-se, agora, a hipótese contrária: Leviatã é
imprevisível, suas ações não obedecem a qualquer lógica;
22 suas reações não seguem qualquer regra. A vida, na rua,
tornar-se-á um caos; seus moradores não sairão de suas casas
e, mesmo assim, sofrerão diariamente o horror mais radical.
25 Sair de casa significará risco extremo, e cada passo, na rua,
será vivenciado como a aventura derradeira. Inviável tentar
proteger-se com cálculos estratégicos e previsões racionais.
28 Nesse contexto, não há como aprender com a experiência,
porque ela não se repete.
Luiz Eduardo Soares. A ética e o intelectual no século XXI. In: Ari Roitman. O desafio ético. São Paulo: Garamond, 2000, p. 69-71 (com adaptações).
A partir da organização das ideias no texto, julgue o(s) item(ns), com relação às estruturas linguísticas nele apresentadas:
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