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Comentários / Companhia de Águas e Esgotos do RN - CAERN - Administrador - FGV - Fundação Getúlio Vargas - 2010 - Prova Objetiva


Criação imperfeita

        Desde tempos imemoriais, ao se deparar com a
        imensa complexidade da natureza, o homem buscou
        nela padrões repetitivos, algum tipo de ordem. Isso faz
        muito sentido. Afinal, ao olharmos para os céus, vemos
5      que existem padrões organizados, movimentos
        periódicos que se repetem, definindo ciclos naturais aos
        quais estamos profundamente ligados: o nascer e o pôr
        do Sol, as fases da Lua, as estações do ano, as órbitas
        planetárias. 
10    Com Pitágoras, 2.500 anos atrás, a busca por
        uma ordem natural das coisas foi transformada numa
        busca por uma ordem matemática: os padrões que
        vemos na natureza refletem a matemática da criação.
        Cabe ao filósofo desvendar esses padrões, revelando
15    assim os segredos do mundo. 
        Ademais, como o mundo é obra de um
        arquiteto universal (não exatamente o Deus judaico-
        cristão, mas uma divindade criadora mesmo assim),
        desvendar os segredos do mundo equivale a desvendar a
20    "mente de Deus". Escrevi recentemente sobre como
        essa metáfora permanece viva ainda hoje e é usada por
        físicos como Stephen Hawking e muitos outros. 
        Essa busca por uma ordem matemática da
        natureza rendeu - e continua a render - muitos frutos.
25    Nada mais justo do que buscar uma ordem oculta que
        explica a complexidade do mundo. Essa abordagem é o
        cerne do reducionismo, um método de estudo baseado
        na ideia de que a compreensão do todo pode ser
        alcançada através do estudo das suas várias partes. 
30    Os resultados dessa ordem são expressos
        através de leis, que chamamos de leis da natureza. As
        leis são a expressão máxima da ordem natural. Na
        realidade, as coisas não são tão simples. Apesar da sua
        óbvia utilidade, o reducionismo tem suas limitações.
35    Existem certas questões, ou melhor, certos sistemas, que
        não podem ser compreendidos a partir de suas partes. O
        clima é um deles; o funcionamento da mente humana é
        outro. 
        Os processos bioquímicos que definem os seres
40    vivos não podem ser compreendidos a partir de leis
        simples, ou usando que moléculas são formadas de
        átomos. Essencialmente, em sistemas complexos, o todo
        não pode ser reduzido às suas partes. 
        Comportamentos imprevisíveis emergem das
45    inúmeras interações entre os elementos do sistema. Por
        exemplo, a função de moléculas com muitos átomos,
        como as proteínas, depende de como elas se "dobram",
        isto é, de sua configuração espacial. O funcionamento do
        cérebro não pode ser deduzido a partir do
50    funcionamento de 100 bilhões de neurônios. 
        Sistemas complexos precisam de leis diferentes,
        que descrevem comportamentos resultantes da
        cooperação de muitas partes. A noção de que a natureza
        é perfeita e pode ser decifrada pela aplicação sistemática
55    do método reducionista precisa ser abolida. Muito mais
        de acordo com as descobertas da ciência moderna é que
        devemos adotar uma abordagem múltipla, e que junto
        ao reducionismo precisamos utilizar outros métodos
        para lidar com sistemas mais complexos. Claro, tudo
60    ainda dentro dos parâmetros das ciências naturais, mas
        aceitando que a natureza é imperfeita e que a ordem
        que tanto procuramos é, na verdade, uma expressão da
        ordem que buscamos em nós mesmos. 
        É bom lembrar que a ciência cria modelos que
65    descrevem a realidade; esses modelos não são a
        realidade, só nossas representações dela. As "verdades"
        que tanto admiramos são aproximações do que de fato
        ocorre. 
        As simetrias jamais são exatas. O surpreendente
70    na natureza não é a sua perfeição, mas o fato de a
        matéria, após bilhões de anos, ter evoluído a ponto de
        criar entidades capazes de se questionarem sobre a sua
        existência.

(Marcelo Gleiser. Folha de S.Paulo, 14 de março de 2010)

Questão:

É bom lembrar que a ciência cria modelos que descrevem a realidade; esses modelos não são a realidade, só nossas representações dela. As "verdades" que tanto admiramos são aproximações do que de fato ocorre. (L.64-68)

As ocorrências do QUE no período acima classificam-se corretamente como:

Resposta correta
a)

conjunção - pronome relativo - pronome relativo - pronome relativo

Resposta errada
b)

conjunção - pronome relativo - conjunção - conjunção

Resposta errada
c)

conjunção - pronome relativo - pronome relativo - conjunção

Resposta errada
d)

pronome relativo - conjunção - pronome relativo - conjunção

Resposta errada
e)

pronome relativo - conjunção - pronome relativo - pronome relativo

Comentários

- 21/03/2016 / 07:46

Emprega-se o pronome relativo que quando precedido de preposição monossilábica; usa-se, o qual (e flexões) quando as preposições são de mais de uma sílaba.

- 02/03/2014 / 09:25

Goataria da explicação dessa questão. No caso o "do" após o "aproximações" faz com que o "que" mantenha-se como Pronome Relativo?

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