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Comentários / TRT - 20.ª Região - Analista Judiciário - Apoio Técnico-Especializado - Tecnologia da Informação - FCC - Fundação Carlos Chagas - 2010 - Prova Objetiva


A arte de não fazer nada

Dizem-me que mais da metade da humanidade se dedica à prática dessa arte; mas eu, que apenas recente e provisoriamente a estou experimentando, discordo um pouco dessa afirmativa. Não existe tal quantidade de gente completamente inativa: o que acontece é estar essa gente interessada em atividades exclusivamente pessoais, sem consequências úteis para o resto do mundo.

Aqui me encontro num excelente posto de observação: o lago, em frente à janela, está sendo percorrido pelos botes vermelhos em que mesmo a pessoa que vai remando parece não estar fazendo nada. Mas o que verdadeiramente está acontecendo, nós, espectadores, não sabemos: cada um pode estar vivendo o seu drama ou o seu romance, o que já é fazer alguma coisa, embora tais vivências em nada nos afetem.

E não posso dizer que não estejam fazendo nada aqueles que passam a cavalo, subindo e descendo ladeiras, atentos ao trote ou ao galope do animal.

Há homens longamente parados a olhar os patos na água. Esses, dir-se-ia que não fazem mesmo absolutamente nada: chapeuzinho de palha, cigarro na boca, ali se deixam ficar, como sem passado nem futuro, unicamente reduzidos àquela contemplação. Mas quem sabe a lição que estão recebendo dos patos, desse viver anfíbio, desse destino de navegar com remos próprios, dessa obediência de seguirem todos juntos, enfileirados, para a noite que conhecem, no pequeno bosque arredondado? Pode ser um grande trabalho interior, o desses homens simples, aparentemente desocupados, à beira de um lago tranquilo. De muitas experiências contemplativas se constrói a sabedoria, como a poesia. E não sabemos − nem eles mesmos sabem − se este homem não vai aplicar um dia o que neste momento aprende, calado e quieto, como se não estivesse fazendo nada, absolutamente nada.

(Cecília Meireles, O que se diz e o que se entende)

Questão:

Está clara e correta a redação deste livre comentário sobre o texto:

Resposta errada
a)

Cecília Meireles, nessa crônica, considera que a arte de não fazer nada é muito enganosa, sendo frequente que aconteça o contrário.

Resposta errada
b)

Nessa crônica, Cecília Meireles não deixa de fazer uma defesa do ócio, conquanto ele seja útil, ao menos para aquele que lhe diz respeito.

Resposta errada
c)

Contra a ideia de que a desocupação é uma tarefa inútil, Cecília Meireles prefere defender que nem todo trabalho deixa de ter consequências.

Resposta errada
d)

Cronista e poetisa sensível, Cecília Meireles não despreza os momentos onde ficamos absortos, aprendendo e desfrutando com a vida.

Resposta correta
e)

Sendo também poetisa, a cronista Cecília Meireles valoriza, em seu texto, aquele tipo de aprendizado que deriva das horas de contemplação.

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