Se o estudo recém-divulgado pelo IBGE, em vez de se chamar Síntese de Indicadores Sociais, se chamasse Síntese de Indicadores de Futuro, talvez ajudasse o País a se dar conta do que o espera se o mais crucial desses indicadores no mundo contemporâneo – a educação – continuar a ser, no Brasil, a catástrofe que as pesquisas revelam com desalentadora regularidade. Fala-se em futuro não porque as escabrosas deficiências do ensino já não venham emperrando a modernização nacional e a expansão dos nossos setores econômicos de ponta. Mas sobretudo porque, na era da revolução tecnológica permanente e globalizada, sem a superação acelerada do atraso educacional, a distância entre o País e as "sociedades do conhecimento" só tenderá a aumentar. O resultado previsível será o encolhimento da participação relativa do Brasil no intercâmbio internacional dos bens e serviços de alto valor agregado – o que faz a riqueza das nações neste século XXI. Diga-se desde logo que a educação de massa, no Brasil, já foi pior. Avançou-se enormemente na última década em matéria de universalização do acesso à escola. Do mesmo modo, o desempenho do sistema de ensino melhorou, embora de forma muito desigual. Mas, a exemplo do que ocorre em tantos outros aspectos da realidade do País, também na educação se avança a passos exasperadamente lentos – seja em relação às necessidades da população, seja em relação ao ritmo do progresso nas outras nações com as quais o Brasil deve ser cotejado. Entram governos, saem governos, e o poder público não consegue concentrar, pelo tempo devido, programas prioritários, recursos focalizados e políticas de gestão eficazes ali onde se trava de fato a mais decisiva das batalhas na frente da educação – o ensino fundamental. As consequências estão nos novos números do IBGE. Há 2,4 milhões de crianças analfabetas na faixa dos 7 aos 14 anos, embora a maior parte delas esteja na escola. É o retrato de uma falência para a qual contribuem professores despreparados e sobrecarregados, condições deploráveis de trabalho, a pobreza das famílias e o interesse insuficiente dos pais, eles próprios analfabetos ou quase isso. Outro indicador da crise é a chamada defasagem idadesérie. Os dados melhoraram, mas novamente o ritmo da melhora deixa a desejar. O mesmo raciocínio vale para o nível de escolarização dos brasileiros com 15 anos ou mais. O aumento foi pequeno e ficou em um patamar muito abaixo de países como a Coreia do Sul. Sem falar, ainda, que a evasão no ensino médio é da ordem de 5 milhões de alunos por ano – o que reforça o nexo entre educação de baixíssima qualidade e a escassez de mão de obra qualificada. Em 2007, 30% dos brasileiros de 15 anos em diante eram analfabetos funcionais ou analfabetos totais. É ominoso constatar que um terço da geração que desponta para o mercado de trabalho, por falta de educação básica adequada, não tem condições de ascensão social. São cidadãos que dificilmente sairão do nível de pobreza.
(Adaptado de O Estado de S. Paulo, A3, 27 de setembro de 2008)
Considere as afirmativas quanto ao emprego de sinais de pontuação no texto. Está INCORRETO o que se afirma em:
a)
... se o mais crucial desses indicadores no mundo contemporâneo – a educação – continuar a ser, no Brasil, a catástrofe ... Os travessões podem ser substituídos por vírgulas, sem alteração do sentido original. |
b)
... sem a superação acelerada do atraso educacional, a distância entre o País e as "sociedades do conhecimento" só tenderá a aumentar. As aspas isolam uma expressão com sentido particular no contexto. |
c)
... no intercâmbio internacional dos bens e serviços de alto valor agregado – o que faz a riqueza das nações neste século XXI. A presença de ponto-e-vírgula no lugar do travessão e de vírgula após a forma verbal faz é aceita pela norma culta e não altera o sentido original do texto. |
d)
... se avança a passos exasperadamente lentos – seja em relação às necessidades da população, seja em relação ao ritmo do progresso nas outras nações com as quais o Brasil deve ser cotejado. Todo o segmento após o travessão poderia estar colocado entre parênteses, em acordo com a norma culta, sem alteração no contexto. |
e)
... ali onde se trava de fato a mais decisiva das batalhas na frente da educação – o ensino fundamental. O travessão pode ser substituído, sem qualquer alteração de sentido, por dois pontos. |
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