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Comentários / Tribunal de Contas do Município - TCM - Pará - Técnico de Controle Externo - FCC - Fundação Carlos Chagas - 2010 - Prova Objetiva


Duas Sociedades

Na formação histórica dos Estados Unidos, houve desde cedo uma presença constritora da lei, religiosa e civil, que plasmou os grupos e os indivíduos, delimitando os comportamentos graças à força punitiva do castigo exterior e do sentimento interior do pecado.

Esse endurecimento do grupo e do indivíduo confere a ambos grande força de identidade e resistência, mas desumaniza as relações com os outros, sobretudo os indivíduos de outros grupos, que não pertençam à mesma lei e, portanto, podem ser manipulados ao bel-prazer. A alienação torna-se ao mesmo tempo marca de reprovação e castigo do réprobo; o duro modelo bíblico do povo eleito, justificando a sua brutalidade com os não eleitos, os outros, reaparece nessas comunidades de leitores cotidianos da Bíblia. Ordem e liberdade – isto é, policiamentos internos e externos, direito de arbítrio e de ação violenta sobre o estranho – são formulações desse estado de coisas.

No Brasil, nunca os grupos ou os indivíduos encontraram efetivamente tais formas; nunca tiveram a obsessão da ordem senão como princípio abstrato, nem da liberdade senão como capricho. As formas espontâneas de sociabilidade atuaram com maior desafogo e por isso abrandaram os choques entre a norma e a conduta, tornando menos dramáticos os conflitos de consciência.

As duas situações diversas se ligam ao mecanismo das respectivas sociedades: uma que, sob alegação de enganadora fraternidade, visava a criar e manter um grupo idealmente monorracial e monorreligioso; outra que incorpora de fato o pluralismo étnico e depois religioso à sua natureza mais íntima. Não querendo constituir um grupo homogêneo e, em consequência, não precisando defendê-lo asperamente, a sociedade brasileira se abriu com maior largueza à penetração de grupos dominados ou estranhos. E ganhou em flexibilidade o que perdeu em inteireza e coerência.

(Adaptado de Antonio Candido, Dialética da malandragem)

Questão:

(...) nunca tiveram a obsessão da ordem senão como princípio abstrato.

Uma outra redação, igualmente clara e correta para a frase, será:

Resposta errada
a)

nunca se fixaram demais em alguma ordem, a despeito da abstração.

Resposta errada
b)

jamais se permitiram o excesso de ordem, tendo em vista sua abstração.

Resposta errada
c)

jamais ambicionaram diferente ordem, a não ser enquanto abstração.

Resposta errada
d)

em tempo algum obsedaram-se por tal ordem, haja vista a abstração.

Resposta correta
e)

jamais se deixaram obcecar pela ordem, vista apenas como abstração.

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