Esta minha estatuazinha de gesso, quando nova - O gesso muito branco, as linhas muito puras - Mal sugeria imagem de vida (Embora a figura chorasse). Há muitos anos tenho-a comigo. O tempo envelheceu-a, carcomeu-a, manchou-a de pátina [amarelo-suja. Os meus olhos, de tanto a olharem, Impregnaram-na da minha humanidade irônica de tísico. Um dia mão estúpida Inadvertidamente a derrubou e partiu. Então ajoelhei com raiva, recolhi aqueles tristes fragmentos, [recompus a figurinha que chorava. E o tempo sobre as feridas escureceu ainda mais o sujo [mordente da pátina... Hoje este gessozinho comercial É tocante e vive, e me fez agora refletir Que só é verdadeiramente vivo o que já sofreu.
Manuel Bandeira
A ação do tempo sobre a estátua de gesso é vista pelo poeta como:
a)
o que acabou por torná-la mais vivaz e expressiva, pelo menos até que um acidente a fizesse perder essa vivacidade. |
b)
responsável por danos que levaram uma obra de arte a perder sua pureza e vivacidade originais. |
c)
um elemento que, juntamente com os danos causados por um acidente, dá vida e singularidade ao que era inexpressivo e vulgar. |
d)
o causador irremediável do envelhecimento das coisas e da consequente desvalorização dos objetos pessoais mais valiosos. |
e)
capaz de transformar um simples objeto comercial em uma obra de arte que parece ter sido criada por um escultor genial. |
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