Leia o TEXTO 04 e responda às questões 4 e 5.
TEXTO 04
O GIGOLÔ DAS PALAVRAS
Quatro ou cinco grupos diferentes de alunos do Farroupilha estiveram lá em casa numa
mesma missão, designada por seu professor de Português: saber se eu considerava o estudo da
Gramática indispensável para aprender e usar a nossa ou qualquer outra língua. Cada grupo
portava seu gravador cassete, certamente o instrumento vital da pedagogia moderna, e andava
arrecadando opiniões. Suspeitei de saída que o tal professor lia esta coluna, se descabelava
diariamente com as suas afrontas às leis da língua, e aproveitava aquela oportunidade para me
desmascarar. Já estava até preparando, às pressas, minha defesa (?Culpa da revisão! Culpa da
revisão!"). Mas os alunos desfizeram o equívoco antes que ele se criasse. Eles mesmos tinham
escolhido os nomes a serem entrevistados. Vocês têm certeza que não pegaram o Veríssimo
errado? Não. Então vamos em frente.
Respondi que a linguagem, qualquer linguagem, é um meio de comunicação e que deve ser
julgada exclusivamente como tal. Respeitadas algumas regras básicas da Gramática, para evitar
os vexames mais gritantes, as outras são dispensáveis. A sintaxe é uma questão de uso, não de
princípios. Escrever bem é escrever claro, não necessariamente certo. Por exemplo: dizer
?escrever claro" não é certo, mas é claro, certo? O importante é comunicar. (E quando possível
surpreender, iluminar, divertir, mover... Mas aí entramos na área do talento, que também não
tem nada a ver com Gramática.) A Gramática é o esqueleto da língua. Só predomina nas
línguas mortas, e aí é de interesse restrito a necrólogos e professores de Latim, gente em geral
pouco comunicativa. Aquela sombria gravidade que a gente nota nas fotografias em grupo dos
membros da Academia Brasileira de Letras é de reprovação pelo Português ainda estar vivo.
Eles só estão esperando, fardados, que o Português morra para poderem carregar o caixão e
escrever sua autópsia definitiva. É o esqueleto que nos traz de pé, certo, mas ele não informa
nada, como a Gramática é a estrutura da língua, mas sozinha não diz nada, não tem futuro. As
múmias conversam entre si em Gramática pura.
Claro que eu não disse tudo isso para meus entrevistadores. E adverti que minha
implicância com a Gramática na certa se devia à minha pouca intimidade com ela. Sempre fui
péssimo em Português. Mas ? isso eu disse ? vejam vocês, a intimidade com a Gramática é tão
indispensável que eu ganho a vida escrevendo, apesar da minha total inocência na matéria. Sou
um gigolô das palavras. Vivo às suas custas.[...]
VERRÍSSIMO, Luis Fernando. O gigolô das palavras. In:____ . Para gostar de ler: Luis Fernando
Verissímo: o nariz e outras crônicas. 10 . ed. V. 14. São Paulo: Ática, 2002. P. 77-78.
“Vocês têm certeza que não pegaram o Veríssimo errado?”(1º parágrafo). Se observado à luz do novo acordo ortográfico, o termo em destaque autoriza a seguinte leitura:
a) manteve a grafia na terceira pessoa do plural do presente do indicativo, algo semelhante ocorre com seus derivados conter e obter.
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b) o acento circunflexo desapareceu na conjugação da terceira pessoa do plural do presente do indicativo dos verbos crer, ler, ter, ver e derivados.
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c) a exemplo do que ocorre com os verbos crer, ler, ver e derivados, permaneceu inalterável.
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d) passou a grafar-se “têem”, a fim de igualar-se aos verbos crer, ler e ver na terceira pessoa do plural.
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e) a exemplo do que ocorreu com a palavra homófona “para” (Ela pára o trânsito/ Ela para o trânsito), o termo em destaque perdeu o acento circunflexo; logo, “Vocês tem certeza que não pegaram o Veríssimo errado?” é a forma correta.
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