1 Está surgindo no mundo uma nova tendência de consumo. De acordo com uma pesquisa mundial divulgada no final de 2009, consumidores reconhecem as boas causas e estão 4 cada vez mais dispostos a apoiar as marcas e empresas que as praticam, percebendo o poder que possuem de determinar as tendências do mercado. 7 Uma das mudanças de valores mais significativas é que encontrar felicidade em consumir parece fazer parte do passado. Apenas 16% dos consumidores ouvidos disseram tirar 10 satisfação em fazer compras. Em 2008, eram 25%. Entre os consumidores brasileiros, a diferença é ainda maior: 29% disseram encontrar satisfação em ir às compras em 2008, 13 enquanto em 2009 foram apenas 14%. Esse cenário faz emergir um paradoxo para as empresas e para o mercado em geral: como atender as 16 demandas de inclusão social e transformar a base do consumo no mundo? É necessária uma revolução nos processos industriais e isso inclui os aspectos relacionados ao consumo, 19 que precisa urgentemente ser reinventado. E é aqui que surge a frustração. As empresas não estão preparadas para enfrentar as mudanças que estão em curso no mundo hoje. 22 Os grandes líderes de mercado parecem ainda ter dificuldade para entender o que está acontecendo de fato. O discurso e a prática dessas empresas ainda estão baseados em 25 modelos ultrapassados, que veem os custos ainda da maneira tradicional, deixando as externalidades para a sociedade. E mais, não são apenas os grandes líderes do setor 28 privado que demonstram essa dificuldade. Uma manchete recente em um grande jornal diário mostra que pesquisadores e jornalistas também não entenderam as oportunidades que 31 estão surgindo a partir das transformações que estamos vivendo. Eis o título da matéria: “Só estagnação econômica pode reduzir aquecimento global, diz estudo”. 34 O relatório da Fundação Nova Economia explica que, segundo a NASA, a agência espacial norte-americana, a concentração máxima de gás carbônico na atmosfera para 37 manter o aquecimento global dentro dos 2 ºC deveria ser de 350 ppm (partículas por milhão). E, para atingir essa meta até 2050, a humanidade teria de reduzir a intensidade das emissões 40 de gás carbônico relacionadas às atividades econômicas em 95%. Então, o estudo classifica essa drástica redução na 43 intensidade das emissões de gás carbônico relacionadas às atividades econômicas de “sem precedente e, provavelmente, impossível”, reforçando a defesa da estagnação econômica. 46 Porém, esse é um grande equívoco. Uma análise desse tipo está claramente baseada em uma visão ultrapassada de desenvolvimento. As demandas provenientes das mudanças 49 climáticas nos obrigam a repensar e recriar nossos modelos, com inovação e visão de futuro. É isso que estão fazendo (ou deveriam estar fazendo) os líderes mundiais. 52 É possível e imprescindível criar uma nova economia, com base em novos modelos, que incluam de fato os aspectos sociais e ambientais.
Ricardo Young. Mudanças no consumo. In: CartaCapital, 26/2/2010. Internet: <www.cartacapital.com.br> (com adaptações).
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