Os habitantes das cidades não são necessariamente mais inteligentes que outros seres humanos, mas a densidade da ocupação espacial resulta na concentração de necessidades. Assim, nas cidades surgem problemas que em outras condições as pessoas nunca tiveram oportunidade de resolver. Encarar tais problemas amplia a inventividade humana a um nível sem precedentes. Isso, por sua vez, oferece uma oportunidade tentadora para quem vive em lugares mais tranquilos, porém menos promissores.
Ao migrarem para as cidades, as pessoas de fora geralmente trazem “novas maneiras de ver as coisas e talvez de resolver antigos problemas”. Coisas familiares aos moradores antigos e já estabelecidos exigem explicação quando vistas pelos olhos de um estranho. Os recém-chegados são inimigos da tranquilidade.
Essa talvez não seja uma situação agradável para os nativos da cidade, mas é também sua grande vantagem. A cidade está em sua melhor forma quando seus recursos são desafiados. Michael Storper, economista, geógrafo e projetista, atribui a vivacidade intrínseca da densa vida urbana à incerteza que advém dos relacionamentos pouco coordenados “entre as peças das organizações complexas, entre os indivíduos e entre estes e as organizações”.
Compartilhar o espaço com estranhos é uma condição da qual os habitantes das cidades consideram difícil, talvez impossível, fugir. A presença ubíqua de estranhos é fonte de ansiedade, assim como de uma agressividade que volta e meia pode emergir. Faz-se necessário experimentar, tentar, testar e (espera-se) encontrar um modo de tornar a coabitação palatável. Essa necessidade é “dada”, não-negociável. Mas o modo como os habitantes de cada cidade se conduzem para satisfazê-la é questão de escolha. E esta é feita diariamente.
(Adaptado de Zygmunt Bauman. Amor Líquido. Tradução: Carlos
Alberto Medeiros. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2004, pp. 127-130)
Os recém-chegados são inimigos da tranquilidade. (2.º parágrafo)
Com a afirmação acima, o autor:
a)
indica que as migrações típicas do mundo globalizado trazem consequências negativas para o modo de organização das cidades. |
b)
sugere que o impacto do aumento populacional crescente nos dias atuais é perturbador para os morado- res das cidades. |
c)
questiona os supostos benefícios que as pessoas de fora trariam ao se estabelecer em novos centros urbanos. |
d)
critica o impulso de migrar para grandes centros urbanos, já saturados, por parte das pessoas que mo- ram em lugares calmos. |
e)
enaltece a inquietação gerada pelas pessoas que migram para as cidades e questionam o modo de vida que nelas encontram. |
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