Há muito tempo o Rio de Janeiro não recebia notícias tão boas de seu passado. É provável que uma equipe de arqueólogos do Museu Nacional tenha encontrado nas escavações da zona portuária as lajes de pedra do cais do Valongo. Entre 1758 e 1851, por aquelas pedras passaram pelo menos 600 mil escravos trazidos d'África. Metade deles tinham entre 10 e 19 anos.
Devolvido à superfície, o cais do Valongo trará ao século 21 o maior porto de chegada de escravos do mundo. Se ele foi soterrado e esquecido, isso se deveu à astuta amnésia que expulsa o negro da história do Brasil. A própria construção do cais teve o propósito de tirar do coração da cidade o mercado de escravos.
A região da Gâmboa tornou-se um mercado de gente, mas as melhores descrições do que lá acontecia saíram todas da pena de viajantes estrangeiros. Os negros ficavam expostos no térreo de sobrados da rua do Valongo (atual Camerino). Em 1817, contaram-se 50 salas onde ficavam 2.000 negros (peças, no idioma da época). Os milhares de africanos que morreram por conta da viagem ou de padecimentos posteriores foram jogados numa área que se denominou Cemitério dos Pretos Novos.
O segundo presente são os dois volumes de "Geografia Histórica do Rio de Janeiro − 1502-1700", do professor Mauricio de Almeida Abreu. É uma daquelas obras que só aparecem de 20 em 20 anos. (O livro de Karasch, que está na mesma categoria, é de 1987.)
Ele leu tudo e, em diversos pontos controversos, desempatou controvérsias indo às fontes primárias. Erudito, bem escrito, bem exposto, é um prazer para o leitor. Além disso, os dois pesados volumes da obra estão criteriosamente ilustrados.
(Adaptado de Elio Gaspari, FSP, 09/03/2011, http://
www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/po0903201104.htm)
Ao referir-se à astuta amnésia que expulsa o negro da história do Brasil (2.º parágrafo), o autor:
a)
lamenta a falta de memória dos próprios negros em relação ao papel fundamental que os escravos desempenharam na história do Brasil. |
b)
alude à retirada dos escravos através do cais do Valongo, que foram então enviados do Brasil para diversos lugares no mundo todo. |
c)
demonstra empatia para com os historiadores que, diante do horror da escravidão, optaram pelo apagamento de tudo o que é relacionado à história do negro no Brasil. |
d)
constata que, em nossa historiografia, o ponto de vista dos descendentes dos escravocratas tem prevalecido sobre o daqueles que têm origem negra. |
e)
critica o deliberado esquecimento, por parte da historiografia brasileira, de tudo o que se vincula à presença do negro em nosso passado. |
Copyright © Tecnolegis - 2010 - 2024 - Todos os direitos reservados.