Descendo o rio Negro, no Amazonas, o contraste da frondosa copa de uma árvore, muito acima das outras, atiça a ir ao seu encontro. Deve ser uma sumaumeira, que um livro de viagem apresenta como tendo no máximo 40 metros de altura. Para o piloto da embarcação, descendente dos índios baniwa, ia pra lá dos 50, e seu tronco não podia ser abraçado ao mesmo tempo pelos guerreiros de uma tribo. Era necessário conferir.
A visão era inverossímil. A sumaúma, com seu tronco desmedido, escorado por raízes enormes, verdadeiros contrafortes, é uma verdadeira obra-prima. Da família Bombacaceae (Ceiba pentandra), é também conhecida como árvore-da-seda, árvore-da-lã, ceiba, paina-lisa. Espécie tropical, é um dos gigantes da floresta amazônica. Encontrada nas matas de várzea e em áreas periodicamente alagadas, apresenta raízes tabulares, as sapopemas, que podem atingir, dependendo da idade, comprimentos superiores a 7 metros. As flores têm pétalas brancas; o fruto, uma cápsula fusiforme com 10 centímetros, provido de pequenas sementes envoltas por pelos, ou painas. Na iminência de um temporal, o enorme tronco, que armazena grande quantidade de líquido, dá uma descarga de água para as raízes – resultado da variação atmosférica. Ouve-se à distância o ruído do movimento da água.
O barulhão da sumaumeira rendeu uma das mais difundidas histórias da Amazônia. Segundo a crença, o Curupira é o responsável pelo estrondo na mata. Armado com um casco de jabuti, ele bate com força nas sapopemas, a fim de verificar se elas estão fortes para resistir às tempestades. Para os índios ticuna, a sumaúma nos remete à formação da Amazônia: "No princípio estava tudo escuro, sempre frio e sempre noite. Uma enorme sumaumeira fechava o mundo, e por isso não entrava claridade na terra. Quando a árvore caiu, a luz apareceu. Do tronco formou-se o rio Amazonas. De seus galhos surgiram outros rios e igarapés."
Da imaginação para a realidade, o que é certo é que ao seu redor se realizam rituais de fertilidade, fartura, prosperidade e assembleias gerais, em que se discutem os interesses da tribo. É a árvore da troca, das crenças, da vida. Um monumento da natureza.
(Heitor e Silvia Reali. Brasil - Almanaque de cultura popular. São Paulo: Andreato Comunicação e Cultura, Dezembro 2006, Ano 8, n. 92, p. 23, com adaptações)
A(s) questão(ões) a seguir baseia(m)-se no texto abaixo.
Em relação ao desenvolvimento do texto, está INCORRETO o que se afirma em:
a)
Há informações específicas sobre a família a que per- tence a sumaumeira, principalmente no 2.º parágrafo. |
b)
Há, no 3.º parágrafo, transcrição de relato de lenda indígena que explica, no terreno mítico, a formação dos rios da região amazônica. |
c)
Os autores acolhem como verdadeiras as explicações indígenas para o estranho comportamento da sumaumeira. |
d)
Identificam-se impressões pessoais dos autores, desumbrados com a imponência da sumaumeira avistada na floresta. |
e)
A realização de ritos em torno da sumaumeira demonstra a veneração que os indígenas dedicam a essa árvore. |
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