1. Os vadios eram um grupo infrator caracterizado,
antes de mais nada, por sua forma de vida. Era o fato de
não fazerem nada, ou de nada fazerem de forma
sistemática, que os tornava suspeitos ante a parte bem
5. organizada da sociedade. Por não terem laços – a família,
domicílio certo, vínculo empregatício –, constituíam um
grupo fluido e indistinto, difícil de controlar e até mesmo de
enquadrar. Passados os primeiros tempos dos descobertos
auríferos, quando, como disse o jesuíta Antonil, os arraiais
10. foram “móveis como os filhos de Israel no deserto”, a
itinerância passou a ser cada vez mais tolerada. Em 1766
surge contra os vadios das Minas a primeira investida
oficial de que se tem notícia: uma carta régia dirigida em 22
de julho ao governador Luís Diogo Lobo da Silva, e incisiva
15. na condenação da itinerância de vadios e da forma peculiar
de vida que escolhiam. Tais homens, dizia o documento,
vivem separados do convívio da sociedade civil, enfiados
nos sertões, em domicílios volantes, ou seja, sem
residência fixa. Isto não podia ser tolerado, e deveriam
20. passar a viver em povoações que tivessem mais de
cinquenta casas e o aparelho administrativo de praxe nas
vilas coloniais: juiz ordinário, vereadores etc. Uma vez
estabelecidos, ser-lhes-iam distribuídas terras adjacentes
ao povoado para que as cultivassem, e os que assim não
25. procedessem seriam presos e tratados como salteadores
de caminhos e inimigos comuns.
(Laura de Mello e Souza. “Tensões sociais em Minas na segunda
metade do século XVIII”, In Tempo e história, org. Adauto
Novaes. São Paulo: Companhia das Letras/Secretaria Municipal da
Cultura, 1992. p. 358-359)
No texto, o autor:
a)
põe em foco um determinado estrato social, particularizando uma tentativa de disciplinamento oficial. |
b)
desenvolve considerações minuciosas a respeito do tema central de seu discurso: a carta de Luís Diogo Lobo da Silva. |
c)
narra um específico episódio ocorrido em Minas, tomado como exemplo do que se pode esperar da ação de grupo de infratores. |
d)
lança hipóteses sobre as causas de um determinado comportamento social, depois de caracterizá-lo a partir da teoria de pesquisadores, religiosos ou não. |
e)
toma os dados de pesquisa histórica como apoio para expressar e justificar o seu próprio juízo de valor acerca de infratores. |
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