1 As indústrias culturais, e mais especificamente a do 2 cinema, criaram uma nova figura, "mágica", absolutamente 3 moderna: a estrela. Depressa ela desempenhou 4 um papel importante no sucesso de massa que o cinema 5 alcançou. E isso continua. Mas o sistema, por muito 6 tempo restrito apenas à tela grande, estendeu-se 7 progressivamente, com o desenvolvimento das indústrias 8 culturais, a outros domínios, ligados primeiro aos setores 9 do espetáculo, da televisão, do show business. Mas 10 alguns sinais já demonstravam que o sistema estava 11 prestes a se espalhar e a invadir todos os domínios: 12 imagens como as de Gandhi ou Che Guevara, indo de 13 fotos a pôsteres, no mundo inteiro, anunciavam a planetarização 14 de um sistema que o capitalismo de hiperconsumo 15 hoje vê triunfar. 16 O que caracteriza o star-system em uma era hipermoderna 17 é, de fato, sua expansão para todos os domínios. 18 Em todo o domínio da cultura, na política, na 19 religião, na ciência, na arte, na imprensa, na literatura, na 20 filosofia, até na cozinha, tem-se uma economia do 21 estrelato, um mercado do nome e do renome. A própria 22 literatura consagra escritores no mercado internacional, 23 os quais negociam seus direitos por intermédio de 24 agentes, segundo o sistema que prevalece nas indústrias 25 do espetáculo. Todas as áreas da cultura valem-se de 26 paradas de sucesso (hit-parades), dos mais vendidos 27 (best-sellers), de prêmios e listas dos mais populares, 28 assim como de recordes de venda, de frequência e de 29 audiência destes últimos. 30 A extensão do star-system não se dá sem uma forma 31 de banalização ou mesmo de degradação - da figura pura 32 da estrela, trazendo consigo uma imagem de eternidade, 33 chega-se à vedete do momento, à figura fugidia da 34 celebridade do dia; do ícone único e insubstituível, passase 35 a uma comunidade internacional de pessoas conhecidas, 36 "celebrizadas", das quais revistas especializadas divulgam 37 as fotos, contam os segredos, perseguem a intimidade. 38 Da glória, própria dos homens ilustres da 39 Antiguidade e que era como o horizonte resplandecente 40 da grande cultura clássica, passou-se às estrelas - forma 41 ainda heroicizada pela sublimação de que eram portadoras 42 - , depois, com a rapidez de duas ou três décadas de 43 hipermodernidade, às pessoas célebres, às personalidades 44 conhecidas, às "pessoas". Deslocamento progressivo 45 que não é mais que o sinal de um novo triunfo da formamoda, 46 conseguindo tornar efêmeras e consumíveis as 47 próprias estrelas da notoriedade.
(Adap. de Gilles Lipovetsky e Jean Serroy. Uma cultura de celebridades: a universalização do estrelato. In A cultura - mundo: resposta a uma sociedade desorientada. Trad: Maria Lúcia Machado. São Paulo: Companhia das Letras, 2011, p.81 a 83)
Considere as afirmações que seguem.
I. A sequência na política, na religião, na ciência, na arte, na imprensa, na literatura, na filosofia, até na cozinha constitui elenco de profissões que tiveram de se associar ao domínio da cultura para atingir a economia do estrelato.
II. Em A própria literatura consagra escritores no mercado internacional, os quais negociam seus direitos por intermédio de agentes, segundo o sistema que prevalece nas indústrias do espetáculo, a expressão em destaque foi obrigatoriamente empregada para evitar a ambiguidade que ocorreria se, em seu lugar, fosse usado o pronome "que".
III. Em A própria literatura consagra escritores no mercado internacional, os quais negociam seus direitos por intermédio de agentes, segundo o sistema que prevalece nas indústrias do espetáculo, o segmento destacado poderia ser substituído por "prevalecente", sem prejuízo do sentido e da correção originais.
O texto legitima:
a)
I, somente. |
b)
II, somente. |
c)
III, somente. |
d)
I e III, somente. |
e)
I, II e III. |
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