1 O começo foi lá atrás e não foi fácil. A profissão que 2 hoje dá orgulho a Tião, aos 32 anos de idade, já foi motivo de 3 vergonha. Ele começou a catar lixo com onze anos, com a 4 família. "Para mim, catar lixo era natural", diz. Para os outros, 5 não. Sua mãe deu uma entrevista e ele passou a ser perseguido 6 pelos colegas da escola. No dia seguinte ao da entrevista, 7 chegou à sala de aula e viu escrito na lousa: "Tião, filho da 8 xepeira", uma referência à xepa, prática de pegar os restos de 9 feiras para levar para casa. Em uma festa da escola, Tião 10 dançava com a namoradinha, quando um menino anunciou pelo 11 microfone: "Olha, ela está dançando com o filho da xepeira." 12 Humilhado, Tião saiu da festa correndo. Saiu também da 13 escola. Ficou cinco anos sem estudar. Agora cursa o 14 segundo ano do ensino médio. Seu sonho é cursar sociologia. 15 No documentário Lixo Extraordinário, Tião diz que 16 gosta de Nietzsche e Maquiavel. Ele encontrou um exemplar de 17 O Príncipe, de Maquiavel, no meio do chorume do aterro. 18 Depois de ler, ficou comparando os príncipes descritos por 19 Maquiavel com líderes do tráfico. Ele conta que a obra foi 20 fundamental quando estava começando sua própria liderança. 21 Depois da indicação ao Oscar, ele acha que sua voz vai chegar 22 muito mais longe que os trezentos metros quadrados do galpão 23 sufocante da associação dos catadores. "Quem nunca teve voz 24 agora vai ter, agora vão nos ouvir", diz ele. Sebastião Carlos dos Santos. Do lixo ao Oscar. In: Época, 31/1/2011, p. 12 (com adaptações).
Com referência às ideias do texto acima e às estruturas nele empregadas, julgue o(s) item(ns) seguinte(s).
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