1 É preciso partir da vida. Mas não vida em geral, e sim da vida hoje, no contexto contemporâneo, frente a duas tendências contrapostas que nos obrigam a repensar esse termo tão antigo e a cada dia mais 4 invocado. A primeira dessas tendências pode ser formulada como segue: o poder tomou de assalto a vida. Isto é, o poder penetrou todas as esferas da existência, e as mobilizou, e as pôs para trabalhar em 7 proveito próprio. Desde os genes, o corpo, a afetividade, o psiquismo, até a inteligência, a imaginação, a criatividade, tudo isso foi violado e invadido, imobilizado e colonizado, quando não diretamente 10 expropriado pelos poderes. Os poderes operam de maneira imanente — não mais de fora nem de cima, mas como que por dentro, incorporando, integralizando, monitorando, investindo de maneira antecipatória até 13 mesmo os possíveis que se vão engendrando, colonizando o futuro. É onde intervém o segundo eixo que eu gostaria de evocar. Resumo este eixo da seguinte maneira: quando parece que “está tudo dominado”, no 16 extremo da linha se insinua uma reviravolta que ressignifica a própria dominação. Aquilo que parecia submetido, subsumido, controlado, dominado, “a vida”, revela no processo mesmo de expropriação sua 19 positividade indomável e primeira. As forças vivas presentes na rede social deixam assim de ser reservas passivas à mercê de um monstro insaciável, para se tornarem positividade imanente e expansiva que os 22 poderes se esforçam em regular, modular ou controlar.
Peter Pál Pelbart. A colonização do futuro. In: Filosofia Especial, ano II, n.º 8, p. 47-8 (com adaptações).
Assinale a opção correta a respeito das relações de coesão do texto:
a)
A expressão “esse termo” (L.3) retoma a ideia anteriormente expressa por “contexto” (L.2), que terá suas características contemporâneas explicitadas no período final do texto, iniciado por “As forças vivas” (L.19). |
b)
Os termos “A primeira dessas tendências” (L.4) e “o segundo eixo” (L.14) retomam a ideia de “duas tendências contrapostas” (L.2), que são, respectivamente, resumidas por o poder toma de assalto a vida e uma reviravolta ressignifica a dominação. |
c)
O termo “tudo isso” (L.8) resume e retoma a argumentação desde o início do texto, e sua presença reforça a ideia de que é “preciso partir da vida” (L.1). |
d)
O desenvolvimento do texto permite subentender que a expressão “forças vivas” (L.19) constitui uma outra forma de se referir a “poderes” (L.10). |
e)
O pronome “Aquilo” (L.17) desempenha, na construção da textualidade, a função de retomar as ideias que compõem “o segundo eixo” (L.14). |
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