1 Quando apregoou aos quatro cantos que a tecnologia seria uma aliada importante na redução do tempo de trabalho e na ampliação dos períodos de lazer, Domenico de Masi 4 conquistou corações e mentes. Argumentou que chegara o momento do ócio criativo, o tempo em que, na sociedade, se imporiam novos sujeitos, em que a indústria e o trabalho 7 perderiam a centralidade. O tempo destinado à formação, aos cuidados consigo e à folga prevaleceria claramente sobre o tempo destinado ao trabalho. Então, poderíamos trabalhar 10 apenas de 3 a 4 horas por dia com a mesma produtividade das 8 horas habituais e reservar um período maior para o lazer. Apesar das boas intenções, o conhecido sociólogo não 13 logrou comprovar suas ideias. Pelo contrário. Logo descobrimos que a tecnologia, na verdade, nos trazia uma carga maior de atribuições e, em lugar das 8 horas, 16 passamos a trabalhar muito mais. Mas não foi só. A distinção entre os tempos de trabalho e os tempos da vida privada, entre os tempos de atividade e os tempos de 19 descanso, deixou de existir. Tudo ficou misturado e muito mais controlado. O empregado passou a ser parte do sistema, passível 22 de ser acessado a qualquer hora, independentemente do período estipulado em seu contrato de trabalho. Além disso, diferentemente do apregoado por Domenico de Masi, o 25 trabalhador voltou a ser considerado, de maneira muito mais perversa e abrangente, apenas peça de uma engrenagem. Com efeito, enquanto nos primórdios do século passado essa 28 engrenagem estava fixada em determinado espaço físico, e o trabalhador dela se libertava quando encerrava o expediente e as portas se fechavam, hoje, ela tem existência virtual e, como 31 tal, não para nunca, não fecha as portas, embora mantenha o velho esquema de limitar a atuação do trabalhador a espaços compartimentalizados, para que não tenha a noção do conjunto, 34 e, assim, não haja a menor possibilidade de ocorrer perda de controle. Charlie Chaplin, certamente, ficaria surpreso ao descobrir que, apesar dos grandes avanços tecnológicos, os 37 apertadores de parafuso e a velha bancada estão de volta, com a agravante de que agora não são os movimentos, mas a própria linha de produção que passa a acompanhá-lo para todo lugar, 40 virtualmente, ampliando os espaços de sujeição.
Teresa Aparecida Asta Gemignani e Daniel Gemignani. In: Revista CEJ, Brasília, ano XIV, n.º 49, abr./jun. 2010, p. 60 (com adaptações).
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