1 Certa vez, um homem, extremamente invejoso de
seu vizinho, recebeu a visita de uma fada, que lhe ofereceu a
chance de realizar um desejo. “Você pode pedir o que quiser,
4 desde que seu vizinho receba a mesma coisa, em dobro”,
sentenciou. O invejoso respondeu, então, que queria que ela
lhe arrancasse um olho. Moral da história: o prazer de ver o
7 outro se prejudicar prevaleceu sobre qualquer vontade.
Assim como o ciúme é querer manter o que se tem e
a cobiça é desejar aquilo que não lhe pertence, a inveja é
10 não querer que o outro tenha. O mais renegado dos sete
pecados capitais é uma emoção inerente à condição
humana, por mais difícil que seja confessá-la. Afinal, todo
13 mundo, em algum momento da vida, já sentiu vontade de ser
como alguém. Há até um lugar no cérebro reservado para a
inveja. Pela primeira vez, uma pesquisa científica mostra
16 onde são processados na mente humana ela e o
shadenfreude — palavra alemã que dá nome ao sentimento
de prazer que o invejoso experimenta, ao presenciar o
19 infortúnio do invejado.
O neurocientista japonês Hidehiko Takahashi
identificou onde os sentimentos são processados no cérebro.
22 Ao sentir inveja, a região do córtex singulado anterior é
ativada. O interessante é notar que é nesse mesmo local que
a dor física se processa. “A inveja é uma emoção dolorosa”,
25 afirma Takahashi. O shadenfreude, por sua vez, se
estabelece no estriado ventral, exatamente onde se processa
a sensação de prazer. “O invejoso fica realizado com a
28 desgraça do invejado”, diz o pesquisador. “Trata-se de um
sentimento caracterizado pela sensação de inferioridade”,
explica o neurocientista Takahashi. “Quando há essa
31 sensação, é porque houve comparação, e a pessoa perdeu”.
Além da insegurança, são características comuns
aos invejosos a baixa autoestima, o sentimento de
34 incapacidade e a sensação de injustiça. “Pessoas bem
resolvidas e esclarecidas tendem a ter menos inveja”, diz o
psiquiatra José Thomé, da Associação Brasileira de
37 Psiquiatria.
Em casos patológicos, que, segundo especialistas,
são mais comuns do que se imagina, quem sofre do mal é
40 capaz de caluniar, perseguir, e, em casos mais extremos,
desejar a morte do invejado. Há, também, os que somatizam.
Nessas situações, podem apresentar quadro depressivo,
43 autodestrutivo, agressividade e tendências suicidas. O
psiquiatra Thomé acredita que, salvo os casos patológicos,
as pessoas têm livre-arbítrio para viver ou eliminar a inveja.
46 “É um sentimento muito primitivo, que deve ser trabalhado”.
Quando a pessoa consegue fazer que o sentimento,
em tese negativo, impulsione ações positivas, ela o
49 transforma no que os especialistas chamam de inveja
criativa. A psicóloga Sueli, da USP, assina embaixo. “É
importante eliminar os sentimentos de inferioridade, a baixa
52 autoestima e mostrar o outro lado”, explica. “Se a pessoa não
é boa em algo, certamente será em outra coisa”. Afinal de
contas, a melhor maneira de domar o sentimento da inveja é
55 identificá-lo e aprender a lidar com ele.
Claudia Jordão e Carina Rabelo. Inveja.
In: Isto É, 3/6/2009 (com adaptações).
Com base nas ideias do texto I, assinale a alternativa correta.
a)
Hidehiko Takahashi afirma que “A inveja é uma emoção dolorosa” porque a região do cérebro em que a dor física se processa é a mesma que é ativada na experimentação da inveja. |
b)
Pessoas com escolaridade superior tendem a ter menos inveja, uma vez que o grau de cultura é fundamental para o desenvolvimento da autoestima. |
c)
O que faz que a cobiça, o ciúme e a inveja sejam sinônimos é o fato de serem sentimentos primitivos, que inferiorizam o cérebro humano, onde são engendrados. |
d)
A inveja caracteriza-se como um sentimento negativo, que, invariavelmente, leva ao sentimento de inferioridade, à agressividade e a crises de autodestruição. |
e)
Os estudos da psique humana, apesar de todos os avanços técnicos e tecnológicos, ainda não têm nenhuma resposta para o paciente que busca dominar dentro de si a chaga moral da inveja. |
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