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Comentários / Ministério do Turismo - MTur - Fundação Universa - 2010 - Conhecimentos Específicos (45 a 50) (Genérica)


danceraudanger.blogspot.com

1 (9/4/2009) Nestes últimos dois dias, participei da
2 gravação de um anúncio de televisão para uma loja de
3 informática. Foi um trabalho intenso: durante mais de vinte e
4 três horas, ensaiamos, gravamos, esperamos, maquiamos,
5 escutamos, esperamos, esperamos, gravamos, ensaiamos,
6 esperamos, comemos, esperamos e esperamos.
7 A equipe era composta por (pelo menos) setenta
8 pessoas. Isso mesmo, uma verdadeira superprodução. Com
9 uma estrutura hierárquica superdefinida, tudo funcionou na
10 mais milimétrica perfeição. Foi incrível. Éramos vinte atores,
11 quatro técnicos de luz, cinco de som, três maquiadores, três
12 figurinistas, doze cenógrafos, fotógrafos, umas dez pessoas
13 com as câmeras, diretor, assistente de direção, eletricistas,
14 produtores, assistentes de produção, estagiários, equipe
15 responsável pela comida, três bombeiros (?), pessoas da
16 limpeza, e outros, todos dando o seu melhor.
Tamanha quantidade de gente manuseando uma
17 tamanha quantidade de materiais técnicos. A tecnologia
utilizada ali era de ponta: câmeras super-ultra-high-tech,
18 gruas enormes, monitores, aparelhos de explosão, luzes,
19 computadores... Tecnologia desenvolvida através da história
20 da humanidade, desde a descoberta do fogo, passando pela
21 invenção da roda até chegar àquele estúdio ali. E ali
22 estávamos todos buscando dar o melhor, quem sabe até
atingir a perfeição. A máxima eficácia.
23 E tudo isso para quê? Para vender produtos de
informática. Tecnologia para desenvolver tecnologia para
24 desenvolver tecnologia, para quê? Para vender.
25 Nada contra o comércio, mas ali, metido naquele
26 circo, eu não conseguia evitar pensar, nem por um segundo,
27 que, se todo aquele enorme esforço, toda aquela incrível
28 concentração, toda aquela brilhante tecnologia, todo aquele
29 fascinante know-how, toda aquela imensa mão de obra, toda
30 aquela emocionante capacidade de mobilização fossem
31 utilizados para questões minimamente mais urgentes, não
32 sei, talvez questões tão simples quanto resolver a fome, ou
33 buscar a cura para doenças terríveis, ou até tentar solucionar
34 o problema da violência em países de terceiro mundo, quem
35 sabe se, por meio de um engajamento tão intenso e resoluto,
36 conseguíssemos algumas respostas práticas para problemas reais?
37 Digo "problemas reais" porque é bom saber discernir
38 as coisas. A publicidade, o motor que move este circo, é uma
39 verdadeira máquina de inventar problemas fictícios. Tal como
40 o destes dois dias. Toda essa parafernália que mencionei
41 estava unida para resolver um problema urgente, com um
42 claro objetivo a ser atingido no final. Esse problema era um
43 só: o de produzir uma imagem potente, capaz de seduzir o
44 consumidor e convencê-lo de que ele "necessita" daquilo
45 tudo. Convencê-lo de que ele é incapaz de viver sem aquele
46 produto. Convencê-lo de que sua alegria, sua sobrevivência,
47 sua participação no mundo depende daquilo. E não nos
48 enganemos, a publicidade não é o motor que move este
49 circo, a publicidade é uma ferramenta. Uma técnica,
50 tecnologia, portanto. O motor é o dinheiro, dinheiro querendo
51 mais dinheiro para ter mais dinheiro.
52 É fato que as grandes invenções humanas, o dito
53 progresso, passam pelo investimento e desenvolvimento de
54 práticas "inúteis". Caso acreditássemos que o que é inútil
55 fosse de fato desnecessário, nós, homens, nunca teríamos
56 chegado a desenvolver o telefone, ou o avião, o micro-ondas,
57 os computadores, não teríamos passeado na lua,
58 desenvolvido a culinária, e toda a história da arte não teria
59 existido. Seríamos primitivos. Pois é, se fôssemos incapazes
60 de investir no supérfluo, não passaríamos de meros
61 autômatos. Como já disse algum poeta ou filósofo (duas
62 brilhantes ocupações inúteis), "a melhor forma de transformar
63 o homem em objeto é dar-lhe apenas do que ele necessita".
64 Bom, pode ser que a citação não esteja exata, mas é o que o
65 filtro da memória me permite recordar. E, assim, lembro que,
66 neste mundo da eficácia em que vivemos, um grande poder
subversivo da arte (e talvez das ciências) é justamente o de
67 desenvolver tarefas inúteis. Criar pontes invisíveis,
suspender o tempo, lembrar ao homem que ele é capaz de
68 sentir dor e alegria. E, se tempo é dinheiro, por que não
69 ganhar tempo?

João Lima. Internet: <http://danceraudanger.blogspot.com>
(com adaptações)

Questão:

De acordo com as ideias do texto II, é correto afirmar que:

Resposta errada
a)

a numerosa equipe de profissionais dedicados ao trabalho de gravação de um anúncio de televisão para uma loja de informática desenvolveu uma tecnologia de ponta para o estúdio, no qual todos se esforçavam para oferecer o melhor de si, desde a descoberta do fogo, passando pela invenção da roda.

Resposta correta
b)

a publicidade tem o poder de criar necessidades artificiais no consumidor que vive na sociedade capitalista moderna.

Resposta errada
c)

o grande objetivo da arte e das ciências é o de desenvolver tarefas inúteis, supérfluas; por isso, o homem consegue extrapolar sua condição de mero autômato, ultrapassando suas necessidades básicas.

Resposta errada
d)

o autor propõe, com evidente humor, que a solução para problemas reais, como resolver a fome, ou buscar a cura para doenças terríveis, ou solucionar a violência em países de terceiro mundo, é o engajamento intenso e resoluto de profissionais contratados para a criação de um anúncio publicitário.

Resposta errada
e)

a frase de conclusão do texto demonstra que o autor defende a ideia de que, ao contrário do que preconiza a sociedade capitalista, ganhar tempo tem menos valor do que ganhar dinheiro.

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