A pós-modernidade é uma era de multiplicação das formas de analfabetismo. As estatísticas referem-se aos estritamente alfabetizados, aos que aprenderam a ler e escrever. Mas raramente há referência ao analfabetismo funcional daquela larga parcela da população que, ainda que saiba ler e escrever, de fato não está alfabetizada porque está aquém do manejo minimamente competente da informação cultural, como a interpretação daquilo que lê. A alfabetização constitui apenas um dado formal. Ela só tem sentido num quadro de solicitações culturais em que saber ler e escrever é mais do que o ato em si. Não é raro que a escola esteja completamente desvinculada das atividades culturais que lhe dão sentido, como a leitura, a frequência a bibliotecas, museus e teatros. Hoje vivemos num cenário em que não é incomum a combinação de alfabetização e ignorância, com a capacidade de ler e escrever reduzida ao uso elementar dos simplismos do cotidiano.
O universo cultural do analfabetismo tem sido ampliado no último meio século, anulando com facilidade os ganhos da alfabetização tradicional da escrita manual e da leitura do texto impresso. O advento do microcomputador pessoal criou, em curto tempo, uma massa de analfabetos até mesmo entre pessoas com nível superior. A linguagem computacional invadiu nossa vida como indecifrável língua estrangeira e nos colocou da noite para o dia à mercê de técnicos que se esmeram em falar o “computacionês” incompreensível. A máquina de calcular livrou-nos dos sofrimentos da tabuada, mas criou uma geração de ignorantes que faz cálculos sofisticados sem saber como são feitos. Saber escrever corretamente a língua portuguesa já não é necessário, pois programas instalados no computador corrigem automaticamente a maioria dos erros e permitem a qualquer semi-alfabetizado escrever quase com o rigor de Machado de Assis.
Estamos muito longe do ensino necessário para cobrir a extensa área de cultura que deve ser assimilada antes da idade adulta para que a pessoa se mova num patamar próprio das demandas culturais crescentes do mundo moderno. Nesse sentido, a insuficiência da nossa escolarização é um instrumento de alargamento do número dos que podem ser classificados na moderna e ampla concepção de analfabetismo, não limitada estritamente ao saber ler e escrever.
(José de Souza Martins. O Estado de S. Paulo, Aliás, J7, 1 de março de 2009, com adaptações)
De acordo com o texto, é INCORRETO afirmar que
a)
o sistema escolar não se encontra preparado para oferecer atendimento a todas as exigências de um mundo moderno. |
b)
o desenvolvimento da moderna tecnologia impõe limites até mesmo às pessoas com ampla formação, por desconhecimento da linguagem própria dessa área. |
c)
os escritores atuais desconsideram o uso da língua portuguesa, apesar de exemplos oferecidos por nomes como Machado de Assis. |
d)
o analfabetismo funcional se aplica ao grande número de pessoas que são incapazes de entender o sentido mais abrangente de um texto. |
e)
o conceito de analfabetismo no mundo moderno estende-se bem além do simples fato de alguém ser capaz de ler e de escrever. |
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