O tempo, como o dinheiro, é um recurso escasso. Isso poderia sugerir que ele se presta, portanto, à aplicação do cálculo econômico visando o seu melhor proveito. O uso racional do tempo seria aquele que maximiza a utilidade de cada hora do dia. Diante de cada opção de utilização do tempo, a pessoa delibera e escolhe exatamente aquela que lhe proporciona a melhor relação entre custos e benefícios.
Ocorre que a aplicação do cálculo econômico às decisões sobre o uso do tempo é neutra em relação aos fins, mas exigente no tocante aos meios. Ela cobra uma atenção alerta e um exercício constante de avaliação racional do valor do tempo gasto. O problema é que isso tende a minar uma certa disposição à entrega e ao abandono, os quais são essenciais nas atividades que envolvem de um modo mais pleno as faculdades humanas. A atenção consciente à passagem das horas e a preocupação com o seu uso racional estimulam a adoção de uma atitude que nos impede de fazer o melhor uso do tempo.
Valéry investigou a realidade dessa questão nas condições da vida moderna: “O lazer aparente ainda permanece conosco e, de fato, está protegido e propagado por medidas legais e pelo progresso mecânico. O nosso ócio interno, todavia, algo muito diferente do lazer cronometrado, está desaparecendo. Estamos perdendo aquela vacuidade benéfica que traz a mente de volta à sua verdadeira liberdade. As demandas, a tensão, a pressa da existência moderna perturbam esse precioso repouso.”
O paradoxo é claro. Quanto mais calculamos o benefício de uma hora “gasta” desta ou daquela maneira, mais nos afastamos de tudo aquilo que gostaríamos que ela fosse: um momento de entrega, abandono e plenitude na correnteza da vida. Na amizade e no amor; no trabalho criativo e na busca do saber; no esporte e na fruição do belo − as horas mais felizes de nossas vidas são precisamente aquelas em que perdemos a noção da hora.
(Adaptado de Eduardo Giannetti. O valor do amanhã. São Paulo, Cia. das Letras, 2005, p.206-209)
Leia atentamente as afirmações abaixo.
I. O problema é que isso tende a minar... (2.º parágrafo) O pronome grifado se refere a decisões sobre o uso do tempo.
II. ... os quais são essenciais nas atividades que envolvem de um modo mais pleno as faculdades humanas. (2.º parágrafo) O segmento grifado na frase acima se refere aos termos a entrega e o abandono.
III. Os segmentos vacuidade benéfica (3.º parágrafo) e fruição do belo (4.º parágrafo) estão corretamente traduzidos, respectivamente, por esmorecimento revigorante e deleite venturoso.
Está correto o que se afirma APENAS em
a)
II. |
b)
I e III. |
c)
I. |
d)
II e III. |
e)
I e II. |
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